Falar por falar A política americana no mundo sempre se caracterizou pelo desprezo de tudo que não fosse da sua área de influência.
Pergunto se não será já tempo de a União Europeia – a tão desejada União-passar a agir como um todo, com voz própria, analisando autonomamente e mais de perto o interesse nacional, o mundo livre e os princípios que os EUA dizem professar.
Será a guerra no Afeganistão uma guerra religiosa?
O ex-pugilista Mohammed Ali, ao ser interrogado quanto ao facto de partilhar a mesma religião com Bin Laden, retorquiu: «E o senhor, como é que se sente ao partilhar a mesma religião com Adolf Hither?»
Recordo aqui que o atentado de Oklahoma foi realizado pelo americano-cristão - herói da Guerra do Golfo, Timothy McVergh.
- O que faz a Grã-Bretanha nesta guerra?
A propósito do Governo Britânico que na altura apoiou os EUA na guerra do Vietename, uma das mais eminentes figuras do século XX, a quem o «Observatore Romano» se inclinou «perante o seu envolvimento sem reservas à causa da dignidade humana». Bertand Russell deixou escrito na sua obra «Crimes de Guerra no Vietname»: «Quando comparo os horrores da guerra do Viatename com o manifesto eleitoral do Governo Trabalhista, deparo com a mais vergonhosa traição cometida neste país, em tempos modernos. Hitler, ao menos, raramente se fingia humano; mas estes homens – que agora conspurcam o poder – fingem professar, antes das eleições, os mais nobres e puros ideais da fraternidade humana.»
Recordo, também, o que o embaixador Franco Nogueira (antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar) me confidenciou, nos seus tempos de professor universitário: «Em política externa tudo o que parece não é.»
Concluo, muitos anos depois, do que tenho lido e ouvido: o conflito no Afeganistão, para além do que nos é dado saber e entender, dele nada ou quase nada conhecemos.
Quanto à acção retaliadora anglo-americana, interrogo-me se ela estará carregada dos tais valores humanistas, ditos ocidentais. Será que não?
Há poucos anos atrás os EUA transformaram o Paquistão e o Afeganistão num dos maiores produtores mundiais de droga.
Dir-me-ão os leitores que não foram os americanos que deram ordem para plantar ópio, mas sim os mujahedines.
Será, mas eu lembro-me do argumento apresentado por um nazi que dizia não ter morto um único judeu, tendo apenas fornecido os camiões.
in: Acção Socialista, 2001