Carlos Carranca - neste lugar sem portas

sexta-feira, dezembro 19, 2008

CARLOS CARRANCA : UMA ESTÉTICA DA LIBERDADE

O conjunto de uma obra pessoal corresponde, quase sempre, a um acto revolucionário. Sobre se essa obra se inscrever no domínio de uma consciência cria­dora e se ela obedecer a uma determinada crença, a qual nem sempre deverá corresponder a uma ideolo­gia de cunho político. No caso da criação poética, salvo os casos de comprometimento declaradamente político, trata-se de uma ideologia poética, uma ideo­logia estética, através da qual o autor irá pautar-se, seguindo o rasto do seu destino pessoal. Toda a criação é a preparação do futuro. O mesmo não diríamos da eternidade, dimensão que ultrapassa o nosso hemis­fério de inteligibilidade. Sejamos razoáveis: um autor prepara o futuro. E esse gesto, que é sempre um gesto pessoal, poderá entroncar com uma possibilidade colectiva, histórica ou, mesmo, trans-histórica. Porque o homem que procura o caminho certo para si próprio está a lançar o foco luminoso definitivo para que todos os outros possam caminhar sobre ele sem o perigo de se perderem no caminho. A dimensão poéti­ca, de acordo com o velho Aristóteles, não é apenas do domínio da metáfora; basta que, dela, faça também parte o sonho para lhe conferir sentido.
Já falámos de uma herança poética a propósito da poesia de Carlos Carranca. Essa herança é, na verdade, um baptismo de raiz. E foram os executantes desse acto baptismal autores como António Nobre, Teixeira de Pascoaes, Miguel Torga, bem como todos os outros que fizeram da verdade da poesia a sua bandeira defi nitiva, como aconteceu com Afonso Duarte. É a par­tir da obra destes autores que poderemos falar numa poética da liberdade, que é também o mesmo que dizer uma poética da Saudade. Utilizamos a palavra conferindo-lhe o seu sentido etimológico mais pre­ciso: o de estado saudoso, de contornos indefinidos, uma ausência do racionahsmo radical, uma filosofia da criação. Em suma, não apenas um estado de espíri­to, mas essencialmente uma filosofia. Deste sistema sem sistema é possível determinar um conjunto de coordenadas que se mantêem, relativamente cons­tantes, que se manifestam a par e com coerência, mas sem o traçado de um programa prévio, estipulado artificialmente.
Antes de mais, que relação existe entre os con­ceitos tradicionais de "poética" e de "estética"? Haverá fronteiras entre eles, existirão desligados, ou, simplesmente, unem-se, num esforço unificador e quase inconsciente? Entrar no domínio da estética poética é entrar, no vértice de uma consciência; de qualquer consciência. É necessário, para isso, que essa consciência seja, pelo menos, consciência de si mesma. Desse modo poderá dar acesso a toda a realidade con­tingente e o autor encontrará a sua linha de rumo. O excesso de consciência poderá levar a um excesso de realidade, como preconizou Husserl na sua filosofia da intencionalidade. Não nos interessa, porém, fazer da leitura da poesia de Carlos Carranca uma leitura fenomenológica, embora houvesse lugar para ela. Não se poderá dizer que o veículo motivador da poesia de Carranca seja apenas o da motivação material. É certo que o périplo criativo do autor se enforma num ima­ginário que lhe é muito próprio e que, ao longo destes vinte e um anos manteve, num estado de coerência, justamente, com a sua consciência original, a sua consciência de raiz, para usarmos uma palavra cara ao autor. Esta coerência, este imaginário unificador, pos­sui, para já, uma ruptura assinalável, visível no con­junto de poemas inéditos a que intitulou Homo Viactor. Lá iremos um pouco adiante.
Não podemos entender a experiência poética de um autor, mesmo quando esta procura uma via expe­rimental, isolada de um contexto onde outras expe­riências se entrecruzam. É por isso que, no caso de Carlos Carranca, podemos, com propriedade, falar de uma herança poética directamente filiada na temática da Saudade, temática que enuncia alguns dos momen­tos maiores da lírica portuguesa. Há aqui uma ideia que gostaríamos de realçar, por paradoxal que pareça: é a circunstância de uma filiação (a qual, neste caso, consideramos sólida) que permite, justamente, um dos grandes princípios da criação: a liberdade poética. Queremos com isto dizer que, ao contrário do que parece, a filiação, a continuação ou a permanência, numa dada corrente, longe de parecer submissão, re­presenta a capacidade de um autor assumir em si a sua verdade, sem o temor ou o complexo de um dedo acu­sador, sem a obstinação da novidade. É na fidelidade a uma herança que se determina, de uma vez por todas, o acto revolucionário de que falávamos no início.
O criador da palavra essencial pode ser revolu­cionário e moderno ao mesmo tempo. Ou seja, é pos­sível executar o acto revolucionário e moderno ao mesmo tempo. Hoje, ser moderno está fora de moda. A poesia moderna não existe verdadeiramente por força de não ser considerada poesia. O que hoje existe, para além da própria condição pós-moderna, que é inevitável para a sobrevivência de um autor, é o domínio da forma sobre o domínio do absoluto. O que nos é visível na poesia contemporânea para além desse "mosaico fluido" de que já se falou, algures, é o esforço desesperado de traçar as novas cartas de nave­gação, desta vez já não nos espaços siderais, mas num quotidiano cada vez mais confuso e onde o destino dos homens se cruzam numa ambiguidade de certezas. Existe a certeza de tudo, mas essa certeza é, ao mesmo tempo, a certeza do nada, do vazio da alma, do abis­mo. Essa consciência do abismo também a tiveram os poetas finisseculares, como Nobre, Laranjeira ou Gomes Leal. Porém, existia neles essa consciência efectiva, essa consciência que lhes permitia colocar os elementos da realidade no lugar que lhes competia; essa consciência finissecular, apesar de todas as crises, fazia-os contemplar a vida com uma lúcida objectivi­dade. Desse modo contemplaram a morte com um sorriso, outros procuraram-na, não por gratuito pes­simismo, mas fazendo jus à noção clara de uma con­tingência que os tornaria mortais. Apesar das mutações históricas, o homem contemporâneo, apesar do grito de Valéry, continua a pensar que está possesso de imortalidade. Como Fausto, sedentos de vida, pactuam com a entidade demoníaca das suas almas o ilimitado preço de uma ilusão. Vivem nela e por ela. Talvez seja esse o verdadeiro rosto da espe­rança. Mas sabemos também que a esperança não é o principal atributo dessa condição pós-moderna.
Fazendo o balanço destes vinte e um anos de pro­dução literária, podemos considerá-los, após uma primeira leitura, como a fase de descobrimento do mundo por parte do autor. Carranca ê, ele próprio, um poeta finissecular. A sua poesia recupera uma voz ancestral; uma voz antiga de, pelo menos, um século. Serve, por isso, como uma ponte nuclear entre uma época e outra, um grito de alerta para o homem novo; acima de tudo, uma longa confissão.
Ora, o que é que tem urn jovem poeta para nos confessar?
Em primeiro lugar, a sua grande alegria por estar vivo. Em segundo lugar, uma grande saudade de um tempo que apenas viveu em reminiscência. Esse tempo é o de Coimbra no século XIX, o Fado, a poe­sia de outros jovens poetas como ele, que experimen­taram o que ele experimenta agora. Recorda e revive com o mesmo sentimento com que Nobre se expres­sou. Na verdade, o seu imaginário geográfico estende--se do Douro até Lisboa, embora Coimbra seja o pólo unificador da sua experiência de vida, que é sempre experiência poética, conforme nos está sempre a fazer lembrar.
Carlos Carranca é um viajante da memória. Trata--se de uma memória viva, feita ao sabor de um grande entusiasmo e de sucessivas paixões. Se assim não fosse, Carlos Carranca não teria realizado a sua obra poética. É uma vontade natural, é uma grácil espontaneidade é tudo isso porque o autor cultiva a vida,do espírito de urna forma clara, sem uma ponta de racionalismo, com a consciência de que a palavra poética é uma ini­ciação — a realização poética é feita de acordo com a conquista de certos estádios, os quais o autor recon­hece e identifica no momento certo.
Desde a publicação de Imagem (1981) até Homo Viactor, incluído neste volume, o autor reparte a sua experiência poética ao longo de sete círculos. A ideia, por si só, transporta-nos para várias leituras. De ime­diato nos lembramos dos círculos dantescos e da sua viagem intemporal. Existe, em todos nós, uma condição dantesca, uma quota parte de tragédia, diante do esplendor da existência. A viagem de Dante, justamente porque é uma viagem trágica por nos revelar as contigências do próprio destino humano, constitui a maior prova de iniciação que foi dada a conhecer ao homem. O homem dantesco, tal como o homem de Gabriel Mareei, é um bomo viador, pois o seu espírito possui o dom da transmigração. Para Dante, como para Mareei, o homem faz-se reger por uma sabedoria trágica: o homem sabe que o seu tempo é o tempo do mundo e que o mundo existe porque se cumpre na viagem. Esta viagem nem sem­pre é uma viagem para o fim. O espírito de Dante, juntamente com o de Virgílio, chegam intactos ao fim da viagem: ambos superaram a prova. O mesmo acon­tece na peça de Mareei: o destino é trágico, mas cumpre-se no milagre da viagem.
Por tudo isto a alma do poeta se encontra em movimento. É uma dialéctica trágica, mas justa, pois o poeta não se pode inscrever impunemente nos vários círculos da criação. Dessa luta contra o destino, ele deverá sair ileso, à força de uma morte precoce.
É ainda cedo para que possamos saber se um jovem poeta como Carlos Carranca irá sobreviver à voragem de um tempo cada vez mais demolidor. Porém, à par­tida, uma certeza possuímos: a de que ele já possui a chave de algum segredo cósmico. Queremos com isto dizer que se a poesia de Carlos Carranca possui uma filiação e uma linha de rumo, que é simplesmente o
rumo do espírito, então só lhe resta continuar um per­curso exemplar. No poema "Inventário", que corres­ponde ao primeiro círculo, o autor inscreve a sua filosofia poética. Há nele a consciência do contin­gente, a consciência de que na poesia, como na vida, há uma página que arde e com a qual o espírito do autor se cobre; é um convite ao repouso, mas é um repouso sobressaltado, feito de dúvidas. Corresponde, afinal, ao início da viagem. Este espírito em brasa, incandescente de vida, puro na sua essência, sonhador em excesso, permanece constante ao longo de todos os outros círculos que o autor enumera nesse percurso (quanto a nós curto) de vinte e um anos.
O poeta assume-se como uma força da Natureza, um "mágico das pedras", ao dizer-nos, no poema inti­tulado "Princípio", que nasceu há dez mil anos "de um parto entre montanhas". Trata-se de um espírito do sonho e da luz, uma espécie de panteísmo, embora não completamente assumido, um espírito todo ele composto de uma memória metafísica. De facto, nesta poesia há um constante apelo à memória, pois trata-se de uma memória do afecto: lugares físicos como o Douro, em Vilamarim, São João da Madeira, a sábia e inevitável Coimbra, são lugares de afecto e, por con­seguinte, de uma intensa memória poética.
Sete círculos que representam os sete círculos de uma vida cheia e intensa. Este périplo em jeito de balanço permite ao leitor o conhecimento quase absoluto do poeta. E dizemos quase porque Carlos Carranca ainda possui todas as surpresas de que a poesia é capaz, ou seja, é um dos poucos poetas de língua portuguesa que é capaz de assumir o mistério da poesia em toda a sua verdade, por mais abstracto que este mistério se afigure à crítica do nosso tempo. Quer queiramos quer não, este acto re­volucionário que é a poesia só se compreende e justifica pela assumção deste carácter misterioso; se assim não fosse a Palavra deixaria de possuir a sua consciência metafísica e passaria a ser apenas um artefacto filológico.
Nesta atitude intuitiva que materializa o fenó­meno poético reside a liberdade de Carlos Carranca. Essa intensa liberdade não se afirma apenas pelo facto de o poeta ser livre, mas afirma-se sobretudo porque não se prende com teorias, não se filia em escolas (a não ser na escola do Ser), não se compromete ideo­logicamente, não está sujeita a programas ou sistemas, não pede o arranque de uma prévia racionalidade. O seu campo é, ao contrário de tudo isto, a vasta exten­são do universo humano, mesmo que nesse universo co-existam outros universos em paralelo. Mesmo assim, a poesia de Carlos Carranca está aberta à ver­dade de todos eles.
Sete círculos metafísicos, sete partidas do mundo, sete grandes destinos: eis o grande ciclo da existência. Reparemos nestes sete círculos dantescos: há entre eles uma personalidade singular. No primeiro, o poeta releva-nos o seu inventário existencial; é um sinal de esperança no futuro: essa página que arde não é mais do que esse mistério eterno que determina a magia do mundo.
É no segundo círculo que ficamos a conhecer a geografia da alma enunciada pelo sujeito poético do autor. É aqui que se situam os lugares do afecto de que falávamos acima e é também aqui que Eros, o ele­mento sedutor que determina toda a paixão, surge por inteiro, a auscultar o desejo do mundo. Este é o círcu­lo da paixão: paixão pelos lugares, a paixão amorosa, a paixão pela mãe, a paixão por um Cristo partido, sím­bolo do homem que cai mas que está prestes a erguer-se de novo.
A passagem para o terceiro capítulo faz-nos entrar no domínio da confissão. Trata-se de uma confissão simultaneamente religiosa e pagã, bipolaridade que nos faz acreditar no ilimitado amor humano. Este é também o círculo em que o penitente e o místico se encontram. O poeta multiplica-se entre o místico, o penitente e o confessor. Há neste círculo cinco poemas que nos ajudam a compreender a chave de toda a poe­sia de Carlos Carranca. São eles "Corpo procurado", "Intimidade", "Desejo", "Confissão" e "Memória naufragada". No primeiro poema referido, o sujeito poético fala-nos da procura de outro corpo, no desejo de se compreender a si próprio. Diz-nos:"E busca do fundo corpo / um corpo/fundo// corpo a corpo / encho o interior do mundo". Este poema, que contém a sim­plicidade e a franqueza de todos os outros, transmite--nos a vontade de uma conquista, que é a conquista da alma. Assim, não é do corpo de que o poeta nos fala, mas sim do espírito que a ele subjaz. No poema "Intimidade", o sujeito poético fala-nos, uma vez mais, da ligação da razão com o sentimento. E mais um poema que nos revela o lado místico do autor, que aqui se assume como o confessor do mundo: "As estre­las, lá no céu, brilham./ E eu,/ cosido comigo / nas sombras do meu poço, / ouço / a voz do mundo". Um pouco adiante, o poeta diz: "Uma estranha energia redobra-lhes a tristeza (o autor refere-se às estrelas)/ que se funde em mim/ como se fosse o princípio do flm/ — almas que se encontram numa prece". O encontro entre duas almas, neste caso a alma do poeta e a alma do mundo, fazem-nos pensar que, se o poeta quiser, Deus não se encontra muito longe do seu ca­minho. Antes de passarmos ao poema intitulado "Desejo", entremos um pouco dentro da consciência poética do autor. No poema "Confissão", o sujeito poético confessa-nos a sua impotência para se aproxi­mar da divindade e assume a sua contingência: "Agarro-me às raízes/que não tenho/ e perco-me todo./ Afundo-me no lodo/ desta minha condição/ de Adão/ sem Éden, sem Eva e sem tamanho". É por isso que nos fala de uma "memória naufragada", título caro a um dos poemas em que a metáfora do mar se alia à sua condição de homem limitado no tempo e no espaço: "Nas ondas da memória passeio/ o gosto de me rememorar./ Naufrago. Humano, agarro-me ao madeiro/ do sonho e deixo-me levar...". Uma vez mais, o sonho é elemento vivificador desta experiência poética. No entanto, a chave (ou uma das chaves desta poesia) reside no poema intitulado "Desejo", poema no qual o sujeito poético do autor nos diz mais direc­tamente qual a sua filosofia poética e qual a raiz da sua liberdade poética. Ouçamo-lo: "Gostava de escrever um poema/ com rios dentro, e dentro dos rios, / mari­nheiros. Rumar ao mar/ como quem se busca no poente". Na segunda quadra, após esta confissão de timbre modernista, há a confissão propriamente dita: "Gostava de escrever um poema/ como quem canta, e do canto/ fazer tempo, o de cantar e de partir/ em busca da pureza apetecida". Sem dúvida que esta é a sua maior confissão poética. As palavras valem por si mesmo.
No quarto círculo, o autor dá-nos a conhecer a sua costela cultural coimbrã, pois a temática dos poemas é a guitarra portuguesa. Esta guitarra é o símbolo de todo o lirismo que caracteriza a alma portuguesa e é vista também como o prolongamento do espírito de quem a toca, conforme sabemos a propósito de Carlos Paredes, figura maior no saudoso lirismo do autor.
E no quinto círculo que se vislumbra todo o espíri­to da saudade. Neste círculo, o sujeito poético coloca a par toda a temática saudosa que o marcou ao longo da vida; trata-se de uma síntese de todos os outros cír­culos, menos do último, cujo tom e cujo ritmo são já uma vertente nova na poesia do autor.
É justamente no sexto círculo, um conjunto de poemas inéditos intitulado Homo Viactor (ou homem viajante) que o autor revela uma nova faceta da sua personalidade criadora. Notamos aqui um maior pes­simismo, uma nota jamais vislumbrada na poesia do autor. Mesmo nos poemas em que o pessimismo era mais visível, existe sempre um remate de esperança. Dir-se-ia que o sujeito poético atingiu um patamar em que a busca esmorece, à força de ter perdido a ilusão da vida, essa vida que o autor sempre amou de uma forma entusiástica, preferindo ver nela sempre o seu lado bom e positivo. Haverá espíritos que esmore­cem? Haverá espíritos que corrompem outros espíri­tos? às vezes é a própria força do amor que se torna energia negativa, fazendo o poeta caminhar para um caminho inesperado e menos próprio à sua condição de criador.
No sétimo círculo, o sujeito poético fala-nos de uma "quietude sem repouso". Esta quietude, apesar de tudo, representa um grande sobressalto perante as incertezas que a própria vida vai tecendo. E como se a esperança ficasse reduzida a um tamanho menor.
Porém, todos sabemos que a inquietação é um sinal criador e que o possível sofrimento de um poeta lhe dará frutos para o futuro.
Não deixa a poesia de Carlos Carranca de assumir essa liberdade revolucionária de que falávamos ao iní­cio. Estamos em presença de um poeta novo em tempo de balanço. O poema do sétimo círculo, tão belo em termos formais e de conteúdo como o do primeiro, dá-nos a ideia do seu estado actual. Essa "quietude sem repouso" contém em si a fórmula que lhe irá permitir o grande voo do futuro.

José Fernando Tavares
Posfácio a O espírito da raiz de Carlos Carranca

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Papel dos professores enaltecido na Estremadura espanhola


http://www.educarex.es/documentos/anuncio/anuncio.html

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Greve de Professores...Ganharam os bons...

362 escolas fecharam portas no dia de greve dos professores e, nas que não fecharam porque houve "aulas" (na maior parte dos casos porque houve "aula" ou nem sequer isso), mantiveram-se ao serviço 1, 2 ou 3 professores.
Isto, para o felicíssimo secretário de Estado Pedreira, significa que "a maioria das escolas [esteve] aberta em dia de greve nacional dos professores"… Já para o contentíssimo secretário de Estado Lemos, ao fim da tarde de quarta-feira, "só" aderiram à greve "às 11 horas" 61% dos professores, o que constitui, obviamente, grande derrota dos professores, até porque, um pouco mais cedo, às 6 e às 7 horas, a adesão foi ainda menor.
Quanto à ministra, fez greve a jornais, TV e escolas e foi visitar… um hospital, pois, em dia de greve nacional de professores, estiveram abertos (nova derrota dos professores) 100% dos hospitais.
A moral da história é que, como antes tinha sido anunciado por não sei quem, "os bons ganham sempre". Os bons somos nós (os bons, os justos, os altos, os inteligentes, os bonitos).
Os maus, injustos, baixinhos, burros e feios (o Inferno) são os outros.
Manuel Antonio Pina
in JN


ENCONTRO NACIONAL DE ESCOLAS EM LUTA

A APEDE e o MUP vêm anunciar uma iniciativa conjunta: a realização de um «Encontro Nacional de Escolas em Luta» para o próximo dia 6 de Dezembro, em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva. O Encontro terá início às 10h e prolongar-se-á até às 17h, com intervalo para o almoço.
Apelamos a que todas as escolas que estão a desenvolver processos de resistência, nomeadamente através da suspensão da avaliação do desempenho, escolham dois representantes para participarem nesse Encontro.
Colegas,

A VOSSA PARTICIPAÇÃO NO ENCONTRO NACIONAL DE ESCOLAS EM LUTA É FUNDAMENTAL, SE QUISERMOS APROVEITAR TODA A ENERGIA CRIADA EM TORNO DA LUTA CONTRA O MODELO DE AVALIAÇÃO PARA COMBATERMOS TAMBÉM O ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE. É aí que devemos concentrar, doravante, todos os nossos esforços. Precisamos, pois, de reflectir em conjunto sobre as formas de luta e as acções mais adequadas para derrubar, a partir das nossas escolas, o Estatuto da Carreira Docente. Esse é o principal objectivo do Encontro que queremos promover.

Inscrições e informações através do e-mail eneluta@gmail.com
As inscrições dos participantes devem conter os seguintes elementos: nome, escola, contacto telefónico.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

ESTA AVALIAÇÃO É APENAS UMA QUESTÃO POLÍTICA

Salvar os BPN’s e afundar a Escola Pública… Pobres Governantes!

E quem disse que esta avaliação não era política?
Quem caiu na esparrela de inocentemente acreditar que a avaliação do desempenho visava melhorar a qualidade técnico-pedagógica dos docentes?

Quem continua a esquecer-se que o modelo de avaliação do desempenho docente foi directamente importado e plagiado (quase na íntegra) por Portugal do modelo chileno? Quem finge desconhecer que o modelo “docente+” foi imposto ao Chile em 2002/2003 pelo Banco Mundial / FMI para reduzir o déficit das contas públicas sob a égide do paradigma norte-americano do New Public Management ?
Quem é que hoje, na américa e na OCDE, faz os piores juízos críticos da ineficácia do NPM (Nova gestão pública)? A resposta ainda ontem veio de Obama e de alguns dos seus futuros assessores (Cfr. Washingtonpost online): “(…)as administrações públicas não se podem orientar exclusivamente para os resultados (i.é. para o controlo do déficit) sem equacionar a real eficiência dos processos e os reais impactos (positivos ou negativos) sobre as famílias e os demais agentes económicos”.

Posso estar enganado, mas amanhã, ou nos dias mais próximos, também na Europa, Durão Barroso ou Sarkozy virão (arrependidamente?) dizer o mesmo que a equipa de Obama veiculou. Trata-se, para todos os efeitos, de uma certidão de óbito às obsessivas políticas de avaliação pública (na senda da accountability propalada pelas teorias neoliberais do New Public Management) que cega e unilateralmente se orientaram para a lógica empresarial e consequente obtenção de resultados financeiros e económico-estatísticos (bens tangíveis), e desprezaram humilhantemente a qualidade dos serviços públicos (bens não tangíveis) como a saúde, a educação e a protecção social.
Enquanto isso, em Portugal, perante uma crise financeiro-económica gigantesca que ameaça desmoronar, a muito curto prazo (em um, dois ou três meses) toda a sua “economia-tigre-de-papel”, o poder político insiste em mostrar toda a sua autoridade em coisas por ora adiáveis (como o é a questão da avaliação dos professores) para, com isso, sonegar ou desviar os olhos dos portugueses da sua incompetência e incapacidade para enfrentar a real e efectiva crise económica que a todos já abala e mais abalará nos próximos meses.

Ouvi hoje, quase com uma lágrima ao canto do olho, a directora regional de educação do norte argumentar com “a ameaça de instauração de processos disciplinares” aos professores que inviabilizem a aplicação deste hediondo modelo de avaliação. Apenas me posso, ingenuamente, questionar sobre uma de duas coisas: Será chilena? Estará legitimada pelo governo para politicamente amedrontar os professores com penas disciplinares? Haja decoro que a democracia em Portugal ainda não caiu de vez! Aliás, não cairá, porquanto isto ainda não é (para desilusão de alguns governantes) “A Quinta dos Animais” ironicamente descrita pelo grande George Orwell.
Como se tudo isto não bastasse, li, agora (no Público online), que os Presidentes do Conselho Executivo vão ser avaliados pelos respectivos directores regionais. Percebe-se esta relação causal: a directora da DREN, por antecipação, começou já a aplicar o modelo. Um modelo de avaliação política que retira aos presidentes de CE (que são professores) toda e qualquer componente pedagógica e socioeducativa que poderia enformar o cargo e condição de docentes eleitos para os órgãos de gestão.

Ou seja, ao contrário do que se passa maioritariamente nos países da OCDE, o governo de Portugal não teve coragem política para criar uma carreira específica profissional para os gestores escolares. Preferiu, também ao arrepio das tendências europeias, não instituir um modelo nacional de efectiva avaliação externa do desempenho institucional das escolas. Antes preferiu (cobardemente?) atalhar caminho: avaliar os professores com míopes grelhas chilenas e subestimar (apagar do seu pequeno memorial político) a avaliação institucional em vigor nos países das designadas «boas-práticas» (Europa do norte e central).
Mais: para além de subestimar os resultados institucionais, assim como as causas efectivas da melhor ou pior prestação pública das escolas em termos de resultados finais (rankings), o governo socialista antes preferiu empurrar para esta cilada (para este jogo de aparências) não apenas os professores mas, por aquilo que agora se sabe, também as direcções executivas das escolas, transformando assim, indecorosa e despudoradamente, os presidentes de CE em bodes expiatórios da quase irreparável crise educacional gerada (e mal gerida) pelo ME e pelo governo.

Pergunto-me: Quem responde por esta falácia nacional? Quem salva BPN’s e afins e afunda deliberadamente a educação pública?
Quem finge desconhecer o quê? Por que esperam os sindicatos para ter uma nesga de mais profunda lucidez e mais consequente eficácia na acção político-sindical? Quem tramou (trama) quem? Que desígnio estranho superintende à política educativa nacional planeada (planificada?) pelos nossos governantes?

Perceba-se e divulgue-se: De acordo com todos os indicadores económico-financeiros mais recentes, mesmo os provenientes de instituições coniventes com a situação que cúmplice e penosamente se arrasta de há anos atrás, este é um país ferido de morte, todavia política e judicialmente desresponsabilizado. A pobreza está, infelizmente, ao virar da esquina mais próxima. Estranha e paradoxalmente (ou talvez não), porque teima o Estado (o governo) em perseguir os seus professores?
Responda quem (não) souber!

Sei (isso sei) que a autoridade democrática que o governo usa para com os seus concidadãos são os mesmos argumentos autocráticos que a ditadura de Salazar utilizou com o meu Pai e com o meu País: o medo, a afronta política e a perseguição.
Porque não tenho a coragem que antes o meu pai heroicamente teve, limito-me a depositar na pessoa da srª directora regional de educação do norte, um beijo extensível a todos os nossos democratas governantes. Um simples beijo, nem igual nem diferente àquele que humilde mais raivosamente daria a qualquer cega rapariguinha que me rogasse pragas e à democracia fizesse figas. Portanto, Beijos, por tanto indecoro ético e por tão pouca sensatez política.

Fernando Cortes Leal
In http://kosmografias.wordpress.com

Maior greve de sempre ronda os 95% de adesão

O "Jornal de Notícias" acompanhou a greve dos professores em várias escolas do país. Nos vários distritos onde passou, a situação foi calma, não houve manifestações de apoio ou repúdio, apenas o gáudio de muitos alunos com a confirmação de “um feriado” há muito anunciado. Os sindicatos falam em 95% de adesão à paralisação, decretada como protesto ao novo modelo de avaliação.

Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, estima que os números da greve rondem os 95% de adesão. "É um orgulho representar os professores. Podemos já dizer que é a maior greve de sempre", disse, considerando “caricato e absurdo” o argumento do Governo de que a maioria das escolas está aberta.
O Secretário-Geral da Fenprof recusa a acusação de se negarem a negociar. “Queremos uma negociação aberta, não queremos é estar sujeitos à negociação do Governo”, disse Mário Nogueira, em declarações à SIC notícias.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Ovos