sexta-feira, dezembro 19, 2008

CARLOS CARRANCA : UMA ESTÉTICA DA LIBERDADE

O conjunto de uma obra pessoal corresponde, quase sempre, a um acto revolucionário. Sobre se essa obra se inscrever no domínio de uma consciência cria­dora e se ela obedecer a uma determinada crença, a qual nem sempre deverá corresponder a uma ideolo­gia de cunho político. No caso da criação poética, salvo os casos de comprometimento declaradamente político, trata-se de uma ideologia poética, uma ideo­logia estética, através da qual o autor irá pautar-se, seguindo o rasto do seu destino pessoal. Toda a criação é a preparação do futuro. O mesmo não diríamos da eternidade, dimensão que ultrapassa o nosso hemis­fério de inteligibilidade. Sejamos razoáveis: um autor prepara o futuro. E esse gesto, que é sempre um gesto pessoal, poderá entroncar com uma possibilidade colectiva, histórica ou, mesmo, trans-histórica. Porque o homem que procura o caminho certo para si próprio está a lançar o foco luminoso definitivo para que todos os outros possam caminhar sobre ele sem o perigo de se perderem no caminho. A dimensão poéti­ca, de acordo com o velho Aristóteles, não é apenas do domínio da metáfora; basta que, dela, faça também parte o sonho para lhe conferir sentido.
Já falámos de uma herança poética a propósito da poesia de Carlos Carranca. Essa herança é, na verdade, um baptismo de raiz. E foram os executantes desse acto baptismal autores como António Nobre, Teixeira de Pascoaes, Miguel Torga, bem como todos os outros que fizeram da verdade da poesia a sua bandeira defi nitiva, como aconteceu com Afonso Duarte. É a par­tir da obra destes autores que poderemos falar numa poética da liberdade, que é também o mesmo que dizer uma poética da Saudade. Utilizamos a palavra conferindo-lhe o seu sentido etimológico mais pre­ciso: o de estado saudoso, de contornos indefinidos, uma ausência do racionahsmo radical, uma filosofia da criação. Em suma, não apenas um estado de espíri­to, mas essencialmente uma filosofia. Deste sistema sem sistema é possível determinar um conjunto de coordenadas que se mantêem, relativamente cons­tantes, que se manifestam a par e com coerência, mas sem o traçado de um programa prévio, estipulado artificialmente.
Antes de mais, que relação existe entre os con­ceitos tradicionais de "poética" e de "estética"? Haverá fronteiras entre eles, existirão desligados, ou, simplesmente, unem-se, num esforço unificador e quase inconsciente? Entrar no domínio da estética poética é entrar, no vértice de uma consciência; de qualquer consciência. É necessário, para isso, que essa consciência seja, pelo menos, consciência de si mesma. Desse modo poderá dar acesso a toda a realidade con­tingente e o autor encontrará a sua linha de rumo. O excesso de consciência poderá levar a um excesso de realidade, como preconizou Husserl na sua filosofia da intencionalidade. Não nos interessa, porém, fazer da leitura da poesia de Carlos Carranca uma leitura fenomenológica, embora houvesse lugar para ela. Não se poderá dizer que o veículo motivador da poesia de Carranca seja apenas o da motivação material. É certo que o périplo criativo do autor se enforma num ima­ginário que lhe é muito próprio e que, ao longo destes vinte e um anos manteve, num estado de coerência, justamente, com a sua consciência original, a sua consciência de raiz, para usarmos uma palavra cara ao autor. Esta coerência, este imaginário unificador, pos­sui, para já, uma ruptura assinalável, visível no con­junto de poemas inéditos a que intitulou Homo Viactor. Lá iremos um pouco adiante.
Não podemos entender a experiência poética de um autor, mesmo quando esta procura uma via expe­rimental, isolada de um contexto onde outras expe­riências se entrecruzam. É por isso que, no caso de Carlos Carranca, podemos, com propriedade, falar de uma herança poética directamente filiada na temática da Saudade, temática que enuncia alguns dos momen­tos maiores da lírica portuguesa. Há aqui uma ideia que gostaríamos de realçar, por paradoxal que pareça: é a circunstância de uma filiação (a qual, neste caso, consideramos sólida) que permite, justamente, um dos grandes princípios da criação: a liberdade poética. Queremos com isto dizer que, ao contrário do que parece, a filiação, a continuação ou a permanência, numa dada corrente, longe de parecer submissão, re­presenta a capacidade de um autor assumir em si a sua verdade, sem o temor ou o complexo de um dedo acu­sador, sem a obstinação da novidade. É na fidelidade a uma herança que se determina, de uma vez por todas, o acto revolucionário de que falávamos no início.
O criador da palavra essencial pode ser revolu­cionário e moderno ao mesmo tempo. Ou seja, é pos­sível executar o acto revolucionário e moderno ao mesmo tempo. Hoje, ser moderno está fora de moda. A poesia moderna não existe verdadeiramente por força de não ser considerada poesia. O que hoje existe, para além da própria condição pós-moderna, que é inevitável para a sobrevivência de um autor, é o domínio da forma sobre o domínio do absoluto. O que nos é visível na poesia contemporânea para além desse "mosaico fluido" de que já se falou, algures, é o esforço desesperado de traçar as novas cartas de nave­gação, desta vez já não nos espaços siderais, mas num quotidiano cada vez mais confuso e onde o destino dos homens se cruzam numa ambiguidade de certezas. Existe a certeza de tudo, mas essa certeza é, ao mesmo tempo, a certeza do nada, do vazio da alma, do abis­mo. Essa consciência do abismo também a tiveram os poetas finisseculares, como Nobre, Laranjeira ou Gomes Leal. Porém, existia neles essa consciência efectiva, essa consciência que lhes permitia colocar os elementos da realidade no lugar que lhes competia; essa consciência finissecular, apesar de todas as crises, fazia-os contemplar a vida com uma lúcida objectivi­dade. Desse modo contemplaram a morte com um sorriso, outros procuraram-na, não por gratuito pes­simismo, mas fazendo jus à noção clara de uma con­tingência que os tornaria mortais. Apesar das mutações históricas, o homem contemporâneo, apesar do grito de Valéry, continua a pensar que está possesso de imortalidade. Como Fausto, sedentos de vida, pactuam com a entidade demoníaca das suas almas o ilimitado preço de uma ilusão. Vivem nela e por ela. Talvez seja esse o verdadeiro rosto da espe­rança. Mas sabemos também que a esperança não é o principal atributo dessa condição pós-moderna.
Fazendo o balanço destes vinte e um anos de pro­dução literária, podemos considerá-los, após uma primeira leitura, como a fase de descobrimento do mundo por parte do autor. Carranca ê, ele próprio, um poeta finissecular. A sua poesia recupera uma voz ancestral; uma voz antiga de, pelo menos, um século. Serve, por isso, como uma ponte nuclear entre uma época e outra, um grito de alerta para o homem novo; acima de tudo, uma longa confissão.
Ora, o que é que tem urn jovem poeta para nos confessar?
Em primeiro lugar, a sua grande alegria por estar vivo. Em segundo lugar, uma grande saudade de um tempo que apenas viveu em reminiscência. Esse tempo é o de Coimbra no século XIX, o Fado, a poe­sia de outros jovens poetas como ele, que experimen­taram o que ele experimenta agora. Recorda e revive com o mesmo sentimento com que Nobre se expres­sou. Na verdade, o seu imaginário geográfico estende--se do Douro até Lisboa, embora Coimbra seja o pólo unificador da sua experiência de vida, que é sempre experiência poética, conforme nos está sempre a fazer lembrar.
Carlos Carranca é um viajante da memória. Trata--se de uma memória viva, feita ao sabor de um grande entusiasmo e de sucessivas paixões. Se assim não fosse, Carlos Carranca não teria realizado a sua obra poética. É uma vontade natural, é uma grácil espontaneidade é tudo isso porque o autor cultiva a vida,do espírito de urna forma clara, sem uma ponta de racionalismo, com a consciência de que a palavra poética é uma ini­ciação — a realização poética é feita de acordo com a conquista de certos estádios, os quais o autor recon­hece e identifica no momento certo.
Desde a publicação de Imagem (1981) até Homo Viactor, incluído neste volume, o autor reparte a sua experiência poética ao longo de sete círculos. A ideia, por si só, transporta-nos para várias leituras. De ime­diato nos lembramos dos círculos dantescos e da sua viagem intemporal. Existe, em todos nós, uma condição dantesca, uma quota parte de tragédia, diante do esplendor da existência. A viagem de Dante, justamente porque é uma viagem trágica por nos revelar as contigências do próprio destino humano, constitui a maior prova de iniciação que foi dada a conhecer ao homem. O homem dantesco, tal como o homem de Gabriel Mareei, é um bomo viador, pois o seu espírito possui o dom da transmigração. Para Dante, como para Mareei, o homem faz-se reger por uma sabedoria trágica: o homem sabe que o seu tempo é o tempo do mundo e que o mundo existe porque se cumpre na viagem. Esta viagem nem sem­pre é uma viagem para o fim. O espírito de Dante, juntamente com o de Virgílio, chegam intactos ao fim da viagem: ambos superaram a prova. O mesmo acon­tece na peça de Mareei: o destino é trágico, mas cumpre-se no milagre da viagem.
Por tudo isto a alma do poeta se encontra em movimento. É uma dialéctica trágica, mas justa, pois o poeta não se pode inscrever impunemente nos vários círculos da criação. Dessa luta contra o destino, ele deverá sair ileso, à força de uma morte precoce.
É ainda cedo para que possamos saber se um jovem poeta como Carlos Carranca irá sobreviver à voragem de um tempo cada vez mais demolidor. Porém, à par­tida, uma certeza possuímos: a de que ele já possui a chave de algum segredo cósmico. Queremos com isto dizer que se a poesia de Carlos Carranca possui uma filiação e uma linha de rumo, que é simplesmente o
rumo do espírito, então só lhe resta continuar um per­curso exemplar. No poema "Inventário", que corres­ponde ao primeiro círculo, o autor inscreve a sua filosofia poética. Há nele a consciência do contin­gente, a consciência de que na poesia, como na vida, há uma página que arde e com a qual o espírito do autor se cobre; é um convite ao repouso, mas é um repouso sobressaltado, feito de dúvidas. Corresponde, afinal, ao início da viagem. Este espírito em brasa, incandescente de vida, puro na sua essência, sonhador em excesso, permanece constante ao longo de todos os outros círculos que o autor enumera nesse percurso (quanto a nós curto) de vinte e um anos.
O poeta assume-se como uma força da Natureza, um "mágico das pedras", ao dizer-nos, no poema inti­tulado "Princípio", que nasceu há dez mil anos "de um parto entre montanhas". Trata-se de um espírito do sonho e da luz, uma espécie de panteísmo, embora não completamente assumido, um espírito todo ele composto de uma memória metafísica. De facto, nesta poesia há um constante apelo à memória, pois trata-se de uma memória do afecto: lugares físicos como o Douro, em Vilamarim, São João da Madeira, a sábia e inevitável Coimbra, são lugares de afecto e, por con­seguinte, de uma intensa memória poética.
Sete círculos que representam os sete círculos de uma vida cheia e intensa. Este périplo em jeito de balanço permite ao leitor o conhecimento quase absoluto do poeta. E dizemos quase porque Carlos Carranca ainda possui todas as surpresas de que a poesia é capaz, ou seja, é um dos poucos poetas de língua portuguesa que é capaz de assumir o mistério da poesia em toda a sua verdade, por mais abstracto que este mistério se afigure à crítica do nosso tempo. Quer queiramos quer não, este acto re­volucionário que é a poesia só se compreende e justifica pela assumção deste carácter misterioso; se assim não fosse a Palavra deixaria de possuir a sua consciência metafísica e passaria a ser apenas um artefacto filológico.
Nesta atitude intuitiva que materializa o fenó­meno poético reside a liberdade de Carlos Carranca. Essa intensa liberdade não se afirma apenas pelo facto de o poeta ser livre, mas afirma-se sobretudo porque não se prende com teorias, não se filia em escolas (a não ser na escola do Ser), não se compromete ideo­logicamente, não está sujeita a programas ou sistemas, não pede o arranque de uma prévia racionalidade. O seu campo é, ao contrário de tudo isto, a vasta exten­são do universo humano, mesmo que nesse universo co-existam outros universos em paralelo. Mesmo assim, a poesia de Carlos Carranca está aberta à ver­dade de todos eles.
Sete círculos metafísicos, sete partidas do mundo, sete grandes destinos: eis o grande ciclo da existência. Reparemos nestes sete círculos dantescos: há entre eles uma personalidade singular. No primeiro, o poeta releva-nos o seu inventário existencial; é um sinal de esperança no futuro: essa página que arde não é mais do que esse mistério eterno que determina a magia do mundo.
É no segundo círculo que ficamos a conhecer a geografia da alma enunciada pelo sujeito poético do autor. É aqui que se situam os lugares do afecto de que falávamos acima e é também aqui que Eros, o ele­mento sedutor que determina toda a paixão, surge por inteiro, a auscultar o desejo do mundo. Este é o círcu­lo da paixão: paixão pelos lugares, a paixão amorosa, a paixão pela mãe, a paixão por um Cristo partido, sím­bolo do homem que cai mas que está prestes a erguer-se de novo.
A passagem para o terceiro capítulo faz-nos entrar no domínio da confissão. Trata-se de uma confissão simultaneamente religiosa e pagã, bipolaridade que nos faz acreditar no ilimitado amor humano. Este é também o círculo em que o penitente e o místico se encontram. O poeta multiplica-se entre o místico, o penitente e o confessor. Há neste círculo cinco poemas que nos ajudam a compreender a chave de toda a poe­sia de Carlos Carranca. São eles "Corpo procurado", "Intimidade", "Desejo", "Confissão" e "Memória naufragada". No primeiro poema referido, o sujeito poético fala-nos da procura de outro corpo, no desejo de se compreender a si próprio. Diz-nos:"E busca do fundo corpo / um corpo/fundo// corpo a corpo / encho o interior do mundo". Este poema, que contém a sim­plicidade e a franqueza de todos os outros, transmite--nos a vontade de uma conquista, que é a conquista da alma. Assim, não é do corpo de que o poeta nos fala, mas sim do espírito que a ele subjaz. No poema "Intimidade", o sujeito poético fala-nos, uma vez mais, da ligação da razão com o sentimento. E mais um poema que nos revela o lado místico do autor, que aqui se assume como o confessor do mundo: "As estre­las, lá no céu, brilham./ E eu,/ cosido comigo / nas sombras do meu poço, / ouço / a voz do mundo". Um pouco adiante, o poeta diz: "Uma estranha energia redobra-lhes a tristeza (o autor refere-se às estrelas)/ que se funde em mim/ como se fosse o princípio do flm/ — almas que se encontram numa prece". O encontro entre duas almas, neste caso a alma do poeta e a alma do mundo, fazem-nos pensar que, se o poeta quiser, Deus não se encontra muito longe do seu ca­minho. Antes de passarmos ao poema intitulado "Desejo", entremos um pouco dentro da consciência poética do autor. No poema "Confissão", o sujeito poético confessa-nos a sua impotência para se aproxi­mar da divindade e assume a sua contingência: "Agarro-me às raízes/que não tenho/ e perco-me todo./ Afundo-me no lodo/ desta minha condição/ de Adão/ sem Éden, sem Eva e sem tamanho". É por isso que nos fala de uma "memória naufragada", título caro a um dos poemas em que a metáfora do mar se alia à sua condição de homem limitado no tempo e no espaço: "Nas ondas da memória passeio/ o gosto de me rememorar./ Naufrago. Humano, agarro-me ao madeiro/ do sonho e deixo-me levar...". Uma vez mais, o sonho é elemento vivificador desta experiência poética. No entanto, a chave (ou uma das chaves desta poesia) reside no poema intitulado "Desejo", poema no qual o sujeito poético do autor nos diz mais direc­tamente qual a sua filosofia poética e qual a raiz da sua liberdade poética. Ouçamo-lo: "Gostava de escrever um poema/ com rios dentro, e dentro dos rios, / mari­nheiros. Rumar ao mar/ como quem se busca no poente". Na segunda quadra, após esta confissão de timbre modernista, há a confissão propriamente dita: "Gostava de escrever um poema/ como quem canta, e do canto/ fazer tempo, o de cantar e de partir/ em busca da pureza apetecida". Sem dúvida que esta é a sua maior confissão poética. As palavras valem por si mesmo.
No quarto círculo, o autor dá-nos a conhecer a sua costela cultural coimbrã, pois a temática dos poemas é a guitarra portuguesa. Esta guitarra é o símbolo de todo o lirismo que caracteriza a alma portuguesa e é vista também como o prolongamento do espírito de quem a toca, conforme sabemos a propósito de Carlos Paredes, figura maior no saudoso lirismo do autor.
E no quinto círculo que se vislumbra todo o espíri­to da saudade. Neste círculo, o sujeito poético coloca a par toda a temática saudosa que o marcou ao longo da vida; trata-se de uma síntese de todos os outros cír­culos, menos do último, cujo tom e cujo ritmo são já uma vertente nova na poesia do autor.
É justamente no sexto círculo, um conjunto de poemas inéditos intitulado Homo Viactor (ou homem viajante) que o autor revela uma nova faceta da sua personalidade criadora. Notamos aqui um maior pes­simismo, uma nota jamais vislumbrada na poesia do autor. Mesmo nos poemas em que o pessimismo era mais visível, existe sempre um remate de esperança. Dir-se-ia que o sujeito poético atingiu um patamar em que a busca esmorece, à força de ter perdido a ilusão da vida, essa vida que o autor sempre amou de uma forma entusiástica, preferindo ver nela sempre o seu lado bom e positivo. Haverá espíritos que esmore­cem? Haverá espíritos que corrompem outros espíri­tos? às vezes é a própria força do amor que se torna energia negativa, fazendo o poeta caminhar para um caminho inesperado e menos próprio à sua condição de criador.
No sétimo círculo, o sujeito poético fala-nos de uma "quietude sem repouso". Esta quietude, apesar de tudo, representa um grande sobressalto perante as incertezas que a própria vida vai tecendo. E como se a esperança ficasse reduzida a um tamanho menor.
Porém, todos sabemos que a inquietação é um sinal criador e que o possível sofrimento de um poeta lhe dará frutos para o futuro.
Não deixa a poesia de Carlos Carranca de assumir essa liberdade revolucionária de que falávamos ao iní­cio. Estamos em presença de um poeta novo em tempo de balanço. O poema do sétimo círculo, tão belo em termos formais e de conteúdo como o do primeiro, dá-nos a ideia do seu estado actual. Essa "quietude sem repouso" contém em si a fórmula que lhe irá permitir o grande voo do futuro.

José Fernando Tavares
Posfácio a O espírito da raiz de Carlos Carranca

1 Comments:

Blogger Balbino said...

Sábado, 3 Janeiro de 2009

Sinais de luzes

Há demasiada tristeza em mim para fazer alguém feliz.
Escuto em silêncio, mas não gosto do que o meu coração me diz.
Gosto de um pouco de calor porque me faz bem
E no entanto, sou rijo e frio - se é que sou alguém.

Tento amolecer a pedra da minha pele
Despindo-me todo no papel
Para que alguém tome conta deste ser
Que tem fome, mas esquece-se de comer.

Faço-me imortal nas palavras que vão sendo lidas,
Breves e cheias, mas sem fecharem as feridas
Que só haverão de ser curadas
Quando todas as luzes forem apagadas.

Escrevo-me em rimas, talvez assim eu comece a sentir,
Mas o meu coração há muito tempo que decidiu partir.
Agora escrevo-lhe cartas e grito "regressa"
Com pedaços d'alma na mão que se desfazem de-pressa.

Choraram neve os meus olhos agitados
Quando descobriram ao que estão destinados.
Sou gente fria e com isso tenho de me conformar,
Pois nunca ninguém se amou antes de primeiro se odiar.

Nunca pensei ver-me tão gordo e tão feio,
Sempre me disseram que era belo e meigo.
A verdade é que eu nunca fui nada
E agora a minha luz que fraqueja, está prestes a ser apagada.

Um beijinho e um bom ano de um daqueles que há-de sempre ser seu aluno,

Balbino

9:31 da tarde  

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