Carlos Carranca - neste lugar sem portas

terça-feira, novembro 30, 2010

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segunda-feira, novembro 29, 2010

Tertúlia de Poemas - Comemoração do Centenário da República



No âmbito das Comemorações do Centenário da República, no dia 7 de Outubro, das 10h às 11h decorreu, no CREM, uma “Tertúlia de Poemas”, dinamizada pelo Dr. Carlos Carranca.

Sendo o professor um profundo admirador de Miguel Torga, em quem reconhece “uma alma gémea”, a Tertúlia fluiu a partir de poemas deste e teve como participantes alunos do 3º Ciclo.

Foi uma manhã muito agradável, repleta de histórias e poemas da República, alguns cantados e acompanhados, à viola, pelo Dr. António Toscano.




CARLOS CARRANCA - Biografia

Carlos Carranca nasceu na Figueira da Foz em 1957, embora mantenha há muitos anos ligações à cidade de Coimbra, à região da Lousã e a Cascais. Licenciado em História, é professor auxiliar convidado da Universidade Lusófona e docente da Escola Superior de Educação Almeida Garrett e da Escola Profissional de Teatro Experimental de Cascais.

Foi presidente da Direcção da Sociedade de Língua Portuguesa e fundador da Direcção do Círculo Cultural Miguel Torga bem como fundador da Sociedade Africanóloga de Língua Portuguesa. Entusiasta da obra de Miguel Torga e de Teixeira de Pascoaes, escreveu ensaios sobre algumas vertentes destes dois grandes Poetas da Língua Portuguesa.

Tem sido como Poeta e também como grande declamador de poesia que a sua personalidade rica de emoção e de uma invulgar dignidade, se tem distinguido de modo inequívoco.

Da psicologia portuguesa

Escrito por Francisco da Cunha Leão

Brandura e violência

A brandura do temperamento caracteriza os Portugueses, particularmente emotivos, coisa que anda no Brasil, com muito açucar, «cravo e canela» dos trópicos. «Molezas ternas do carácter» segundo Fialho de Almeida, em observação comum às duas bandas do Minho.

Uma das nossas palavras-tipo, das que Unamuno considera definidoras e intraduzíveis, é meiguice.

A afectividade marca-nos, forma o tesouro da nossa psicologia, está na base da compreensão e do querer. A suprema evidência da vida, o que a torna bela e digna de ser vivida, é o amor, que atinge o absolutismo (1). O português compreende e age por comoção.

O outro grande pólo da evidência situa-se na morte. Amar e morrer são os estados plenos do ser.
Morrer, já nos cancioneiros medievais equivale a desejar muito (v. José Joaquim Nunes «Cantigas de Amigo», vol. III) e está ligado intimamente à elocução amorosa.

Amor e morte são para a mundividência portuguesa as duas únicas alternativas, excluem o termo médio.

Amor idêntico a vida. Fora dele outra dignidade não há que a da morte. E a morte vem a ser o cumprimento da existência que tem no amor e no heroísmo as cordas mais tensas, as máximas provocações.

O amor é uma absorção no Português, facto notado pelos Espanhóis e pelos nossos compatriotas conhecedores de Espanha (por ex. Lope de Vega e D. Francisco Manuel de Melo). Outra consstante lhe foi reconhecida por esses e outros em todas as épocas: o valor guerreiro.

Tal supervivência do amor domina a Poesia - «a coisa mais séria que há em Portugal» na opinião de Afonso Lopes Vieira.

Estranho é que o verbo amar e o substantivo amor pululem na palavra escrita, enxameando alguns géneros literários, e sejam evitados, em especial as formas verbais, na linguagem oral, ao contrário do que acontece na conversação francesa. Vê-se que há pudor no uso do verbo amar, substituído quase sempre por gostar, querer e até adorar, (no afectado calão de Lisboa-Cascais).


Na imagem: Lisboa (Castelo de S. Jorge)

A nosso ver isso provém da idealidade posta no amor, algo de sagrado que na fala quotidiana exige discreção, defesa da trivialidade. O caso é tanto mais notório quanto o Português não receia as palavras, propende a chamar as coisas muito naturalmente pelos seus nomes, razão porque o seu idioma dificilmente se amolda à tradução de textos amorosos franceses.

Significativo é o emprego frequente dos diminutivos, mormente da terminação inho, denunciadora de extremos de ternura.

Muitos acham ridícula, piegas, essa costumeira luso-galega. Cada povo fala, porém, conforme sente, imprime aos idiomas, que são sedimentares, o jeito da sua alma. Claro que a diminuição poderá obter-se com o qualificativo pequeno, qual o fazem os Franceses com petit. Mas pequeno, petiz significa redução, ao passo que o sufixo inho, as mais das vezes não minimiza, envolve ternura, e nas províncias do Norte, consideração, respeito afectuoso, como por exemplo chamar senhor Antoninho a um proprietário criado e radicado na terra, independentemente da estatura e idade.

O diminutivo nessas condições não é usado em relação a qualquer pessoa, revela certa escolha social, mediante o filtro afectivo de que o íncola se serve.

A moda foi de Norte a Sul, invadiu as terras de Além-Mar, Cabo Verde, o Brasil. No Algarve abundam os apelidos em diminutivo.

A sensibilidade complexa e o espírito irónico levaram a inflexões semânticas subtis. Aumentativos com intenção diminutiva, diminutivos ampliadores.

Tal brandura do temperamento impregnou as instituições, e joga contra os justiceiros quando exageram estribados na fria razão.

Assim a escravatura, entre nós, tornou-se moderada. O próprio Toynbee o reconhece. O quadro patriarcal em que se inseriu nos territórios portugueses e a tendência não segregacionista, quer pela indiscriminação das relações sexuais, quer por motivos de afectividade religiosa e de política unitária, levou à humanização do tratamento dos escravos e à alforria destes.

Se fomos dos primeiros a abolir a escravatura na generalidade, e não para ferir interesses rivais como a Grâ-Bretanha, muito antes disso algumas disposições parciais a haviam abolido (por exemplo: a carta de alforria dada por D. Manuel I aos escravos de S. Tomé e a disposição idêntica para os índios do Brasil no tempo do marquês de Pombal). O padre António Vieira, pensador lusíada por excelência, é decerto o mais estreme procurador do movimento antiescravocrata moderno.

Contamo-nos também na primeira linha dos que baniram a pena de morte - coisa que soberbas nações, tão ciosas de comandos mundiais, ainda não fizeram. Orgulham-se da sua colossal engenharia, do poder económico e militar, da mecanização generalizada, sem que tenham conseguido institucionalizar um princípio básico em civilização que se diga cristã ou pelo menos humana (2).



O toureio da Lusitânia, conforme se fixou, tanto reflecte a bravura peninsular como um específico sentimentalismo, correndo o forcado com galhardia os riscos da luta contra o animal, opondo-lhe apenas o seu físico, e sem que haja o remate cruento da morte do touro.

A tourada «à portuguesa» é fruto do temperamento nacional. Desse ângulo nos cabe focá-la.

Entre nós jamais poderia ser um caso de vida ou de morte com o touro, como na Espanha, país das oposições frontais e dos extremos dramáticos. A nossa sensibilidade não concede que se derrame sangue por mera distracção.

Temos um jogo, um passatempo, já tradicionalmente evoluído, a que não dispensamos arte, fantasia e lealdade. O duelo do homem com a besta exerce-se, todavia, sujeito a um mínimo de convenção que o despoja dos aspectos mais bárbaros. Serram-se os cornos ao boi, mas dispensa-se a espada morticida; serram-se os cornos ao boi porque o homem também não pretende matá-lo, nem é preciso mortes para que haja lide; serram-se ainda porque os cavalos, os nobres cavalos que custam a amestrar não possuem arma equivalente e dói-nos vê-los esventrados, tripas de fora.

O forcado vai para a cabeça do touro de peito exposto, e desarmado. O cavaleiro floreia, volteia com destreza, movimentos amplos, galantaria.

Será barroco? Seja. Arte marialva, «entronização do amo» (3)? Antes do mais, veja-se a causa psicológica, modeladora do público e do consenso nacional, que assim consagrou, humanizada, a «festa brava» dos portugueses.

Se o temperamento suave, comovível, como factor de plasticidade nos abre à compreensão do alheio e, desta sorte, ao universalismo, à tolerância, ele não deixa de comportar negativo reverso. A tão apreciada «brandura dos nossos costumes», descamba amiúde para amolecimento moral, condescendência em relação aos abusos, à vagabundagem e outras pechas de longa data aninhadas no meio social português. Uma delas está na generalização do empenho, a um tempo credencial e gazua, na «cunha» como verdadeira instituição nacional. Corrente pedir-se tudo, os mais altos cargos, as honrarias, o passar nos exames e a preferência nos concursos, as situações monopólicas, e desde o simples cumprimento do dever à mais grossa ilegalidade. Há mesmo quem considere um acto de cortesia a pessoa «recomendar-se», e desatenção não o fazer. É um dos aspectos que mais impressiona os estrangeiros.

Todavia o costume, por muito que se radique na nossa sensibilidade, alega motivos de justificação, a cada passo fundamentados pela demora e atropelos a que muitos assuntos, até de expediente, estão sujeitos em burocracias chinesas ou ronceiras, muito condicionadas e pouco selectivas, mesmo nas empresas particulares.

Também esta «brandura dos nossos costumes» leva a esquecer depressa, após o transe emocional. A própria justiça no caso de tardia ou muito rigorosa chega a desagradar aos mesmos que a reclamaram. Aceita-se melhor a violência fulminante, a sanha de ofendido ou traído que a impessoal, fria razão judiciária.

Sendo o Português no geral bondoso, sofredor, espanta que se transmude intrepidamente em violento e cruel.


Na imagem: Miguel de Unamuno

É a «ira do manso», a pior, segundo Unamuno. Outros autores assinalaram esse aspecto revelado em certas páginas breves, mas extremamente brutais da nossa história, em que há lances de cólera cega. Tais episódios parecem desmentir a brandura do carácter e dos costumes, a baixa criminalidade do nosso povo.

A contradição equivale às que se verificam noutro campo, entre a veia lírica e a satírica, entre om idealismo do «amor-adoração» e a obscenidade boçal da chalaça amorosa.

Oliveira Martins chega a falar em força aliada ao terror, demonstração extrema e extremo desconcertante da psicologia portuguesa, que também lhe serve para se não vergar à intimidação terrorista como ainda há poucos anos aconteceu em Angola, cuja população, espontaneamente, e sem aguardar o apoio da Metrópole, afrontou com a maior bravura, a bárbara, selvagem explosão.

A ferocidade é inscrita por Sampaio Bruno como distintiva de Portugal antigo. Di-lo a propósito da Inquisição, apoiado em narrativas de autos-de-fé no seu livro «O Encoberto». Associa o facto a um «religiosismo intransigente». Incide a crítica, efectivamente, sobre uma época de intenso fanatismo, entre acções e reacções reformistas heterodoxas como ortodoxas que geraram uma atmosfera de excessos, até e principalmente, nos países considerados hoje mais livres e tolerantes.

Aliás, haverá história que se meça com a da Inglaterra, em especial nos séculos XVI e XVII, nas múltiplas manifestações endógenas de violência configuradas em perfídias cruas, odiosas, incansáveis perseguições, intolerância, esbulhos, descaroáveis assassínios e matanças?

Ter-se-iam modificado os Portugueses de Oitocentos, após a sangreira fratricida das guerras liberais? Modificaram-se os Ingleses, Franceses, Italianos?

A dificuldade está em discernir o que é temporal do que é indiossincrático, ou melhor, os processos evolutivos da conjugação desses factores.

A brandura, o carácter amoroso, a generosidade humana dos Portugueses parece-nos uma constante, certificada em todas as épocas, mediante literatura, arte, obras pias e o trato com a restante humanidade. Outra constante, por igual certificada pelos séculos, é a do heroísmo, da bravura no combate.

Já a violência é intermitente, por explosivismo dos recalques de um povo sofredor e resignado, por atiçamento passional sobre as circunstâncias que destemperam a nossa peculiar sensibilidade, quais sejam o cálculo pérfido, a traição, a usura desapiedada. Isso exprime-se em condescendência beneficiária daqueles que, perdendo a razão por decepções sentimentais, acaso foram cruéis; dos violentos cheios de razão; dos que, possuídos por um idealismo apaixonado, esquecendo-se de si próprios, também puderam incorrer nalgumas desatenções ou desvios de sensibilidade.

Na imagem: Leonardo Coimbra

Dispensamo-nos de apresentar exemplos, visto que são flagrantes; de uma História Pátria que é das menos sangrentas ressaltam com nitidez as violências perdoadas e as não perdoadas. E pelas razões expostas (in Ensaio de Psicologia Portuguesa, Guimarães Editores, 1971, pp. 96-104).

Notas:

(1) «Não pode haver duas leis. E a do Amor é absoluta. Por isso creio ainda na vida futura» - Leonardo Coimbra (Revista «A Águia, 1.4.1911).

(2) É de considerar terem propiciado o Habeas corpus as tradicionais «cartas de seguro» do Direito Português. Veja-se «Cartas de Segurança por Carlos Araújo Lima (Edições Fundação Cultural Amazonas, 1969).

(3) Expressão de José Cardoso Pires.

terça-feira, novembro 23, 2010

Os donos de Portugal

Manuel António Pina

JN online

Três grandes grupos económicos anunciaram já a antecipação para este ano da distribuição de dividendos (e mesmo de reservas) que só deveriam ser pagos em 2011.
A razão é escandalosamente simples: em Janeiro entram em vigor, juntamente com os aumentos de impostos e reduções de salários, pensões e prestações sociais que atirarão para o desemprego e a miséria muitas centenas de milhar de portugueses, também várias alterações às isenções de tributação de que gozam as SGPS.
Pagando antecipadamente os dividendos de 2010 antes de findo o ano económico, a PT, a Portucel e o Grupo Jerónimo Martins/Pingo Doce (que ainda recentemente instituiu uma fundação com uma "carta de princípios" cheia de expressões como "solidariedade social" e "responsabilidade social") escaparão pela porta do cavalo aos "sacrifícios para todos" com que enchem a boca Governo e PS.
Sobre a fuga aos impostos de 1 100 milhões de euros num momento crítico como o que o país atravessa, o que o Governo, pelo perplexo ministro das Finanças, tem de substantivo a dizer é que é "legal".
E se calhar é.
Só que quem fez as leis que o permitiram e não fez as leis que o impediriam foi o mesmo Governo (que às vezes mais parece um Conselho de Administração do país por conta dos grandes grupos económicos e da banca) que tanto gosta de mostrar "coragem e determinação" quando se trata de exigir sacrifícios aos mais pobres e às classes médias.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Candidatura de Fernando Nobre



Desígnios Nacionais:



1º- Coesão, Paz e Justiça Social: Vivemos em Portugal numa situação insustentável, em que a distribuição da riqueza é feita de forma inaceitável, em que os 20% por portugueses mais ricos e os 20% mais pobres estão separados por uma diferença abissal e incomportável;

2º- Educação: o sistema de ensino deve dar atenção à qualidade, à exigência e ao esforço, e premiar o talento e o mérito;

3º- Justiça: a legislação em Portugal é feita para permitir a sua inobservância e o mau funcionamento da justiça representa um elevadíssimo custo para o País, calculado entre 1 e 1,5% do PIB, ou seja, de toda riqueza nacional produzida num ano;

4º- Mar: o investimento na exploração dos fundos marítimos poderá trazer riquezas incalculáveis ao nosso país, que possui a quinta maior superfície marítima do mundo. Investir agora no mar poderá trazer um futuro melhor para os nossos filhos e netos;

5º- Lusofonia: poderá ser uma alavanca poderosa da nossa competitividade internacional;

6º- Agricultura: não podemos continuar a importar 70% das nossas necessidades alimentares. Portugal tem de se virar para a terra e para o mar e acabar com a destruição da nossa pesca e agricultura;

7º- Energia: aproveitamento de todas as fontes de energia que possam contribuir para sermos auto-suficientes;

8º- Dignificação do Estado;

9º- Valorização das cidades e o ordenamento do território: como podem os nossos governantes andar tão alheados dos nossos centros históricos e aldeias históricas, e não verem o esforço de requalificação urbana que tem sido feito noutras cidades europeias?

10º- Fortalecimento da Democracia: a democracia só será perene se nos empenharmos, se exigirmos, se participarmos. Juntemos à nossa democracia representativa um pouco de democracia participativa. Portugal pertence aos portugueses e todos têm direito a participar na vida do seu País.


quarta-feira, novembro 17, 2010

Recolhemos 15000 assinaturas


Meus queridos e bons amigos:

Atingimos o nosso objectivo.

Recolhemos 15000 assinaturas.

Para quem ainda não as tenha entregue informo que a data limite será sexta-feira dia 18/11.

Estão todos de parabéns.

Muito obrigado a todos.

A vossa Candidatura, da mais pura Cidadania, demonstrou a sua força e pujança.

Nem o silenciamento nem a mentira e a difamação nos impedirão de surpreender até ao fim.

A recolha das assinaturas foi só a primeira prova da nossa/vossa formidável força e empenho.

Vamos continuar.

Vamos vencer em nome dos nossos Valores, em nome de Portugal.

Muito obrigado e forte abraço

Fernando Nobre

sábado, novembro 13, 2010

Carlos Carranca na "Folha de Santa Clara", do mês de Outubro, deste ano, a propósito do primeiro programa televisivo, "Poesia para todos".


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terça-feira, novembro 09, 2010

Carta aberta ao candidato Fernando Nobre

DA ESPERANÇA NEVOEIRO À ESPERANÇA PADRÃO

De livre vontade, reflectido acto e acreditando haver ainda portugueses com a mesma estrutura genética das gerações de Avis - que ao invés de acumular dívidas deixam padrões civilizacionais -, aceitei ser membro da comissão de honra da sua nobre candidatura pelo círculo de Coimbra. Fi-lo e assim o mantenho, na mesma condição de alma que busca também o melhor discernimento, não duvidando de o Doutor Fernando Nobre ser um desses portugueses da tal organização genética, com notável percurso profissional e de impoluta ética.
No horizonte sombrio que se descortina, é V. Exa. o navegador mais equipado de sentimentos, de um humanismo que não se fica pelo teor académico, mas indubitavelmente manifestado no campo da vida tão abrangente como o da esfera armilar. Figura ideal, capaz de presidir sem hipocrisia ao país, à nação e à pátria; homem de lusa itinerância que aproxima as pessoas em causas que tendo origem na dor humana, em dedicada auscultação tem respondido com o mais elevado sentido cívico, qualidade primeira que se exige a quem desempenha o mais alto cargo de uma nação. A esta linguagem de humanidade também o Dr. Fernando Nobre pode, como ninguém, convocar a Língua Portuguesa, operando assim o contraponto necessário e urgente a redutoras influências que, no mesmo jeito de «primeiro estranha-se, depois entranha-se», nos têm empurrado para uma ditadura sobre a nossa cultura. Ora, esta e outras situações, de limitações tremendas para a expressão do nosso pensamento, deve volver-se num grito de desespero para se afirmar e expandir definitivamente a Língua de Fernando Pessoa como idioma de cultura bem cuidada na seara do mundo, começando por se tratar o desleixo no nosso quintal…
Todos sabemos que os ventos entre nós - por soprarem sempre do mesmo lado se tornaram pestilentos - não são favoráveis à acção de Fernando Nobre num rumo urgente, inteligente e consequente, que possa tirar Portugal dos caminhos que o íntimo das consciências dos mais idosos já não aceita, seja qual for o sedutor apelo para essa via, e as gerações mais novas, aturdias, ainda assim, intuitivamente se recusam a palmilhar. Por isso, distinto candidato Fernando Nobre, ousemos provocar a direcção na qual, há já muito, todos vão alegremente no estranho paradoxo da tristeza de não saberem para onde vão. Tendo presente que «o homem e a hora são um só», a sua nobre pessoa saberá lançar, à maneira de no mito de Fausto, a “nota dissonante” sobre o “amen” prosaico da actual cena política portuguesa que, quer seja a do sim ou a do não, é sempre inconsequente para o melhor fim.
Esta é a hora de não haver hesitação, a hora da coragem, de tudo projectar na tela da alma do nosso Povo, pois - permita-me, humilde mas sinceramente, dizer-lhe – poderá ser a mais alta oportunidade que o destino pode conceder a V. Exa. e às gentes do nosso país. Nada há a perder, estando já assegurada a mais saborosa das vitórias: dizer aos portugueses o que ninguém tem dito; dar ânimo como nunca ninguém o trouxe, intuir o caminho - politicamente correcto ou incorrecto - que nunca ninguém ousou mostrar. São muitos a dizer que «o rei vai nu», mas o Dr. Fernando Nobre mostrará a todos, pela sua acção, que o Padrão que, no «areal moreno», Diogo Cão deixou no caminho da civilização, é de natureza bem diferente daquela do padrão-formatação, sobretudo sócio-cultural, de que Portugal tem sido vítima.
A verdadeira vitória começa, pois, na sua eleição pelas consciências despertas. O que elas esperam é de si, não de outros que personificam Portugal decadente, e que quando abrem a boca é na estreiteza das suas laringes cansadas e roucas, escondendo um paradigma que agora já só pode representar o moribundo sistema materialista europeu e mundial, que continua a insistir em «meter vinho novo em odres velhos». Assim, na sua eleição como candidato, pelas consciências despertas, o Povo soará o clarim de recomeçar Portugal, ou continuá-lo onde não tem sido tocado. Todos os que estão consigo são a maré forte para a fortaleza que é necessária ao país, e que, nesta hora, lhe pedem para lançar o grito de «terra à vista», isto é, que a esperança nevoeiro para muitos seja a esperança padrão, visível e corpórea de quem deixa, antes de mais, marca no coração ansioso dos portugueses. Para os que em si sempre acreditaram e sobretudo para muitos que ainda virão a acreditar, e porque alguns o têm apelidado de candidato dissimulado, não poderá haver vertigem de dúvida para ninguém, sendo certo que há quem não necessite de ver para crer.
Todos acreditamos que a sua acção, prosseguindo, tornar-se-á, a partir de agora, uma nunca vista injecção de vigor nacional! Cresce o eco estimulante no seio da população que o ouve, os tais portugueses com genes de Avis e de civismo de pendor republicano de um Sampaio Bruno, de um Antero, de um Junqueiro, de um Jaime Cortesão, e entre outros mais recentes, como Agostinho da Silva e Fernando Valle. Desta maneira, até as gerações mais jovens se sentirão motivadas para aumentar essa prole tão necessária para recomeçar ou continuar Portugal.

Coimbra, 5 de Novembro de 2010

Eduardo Aroso

segunda-feira, novembro 08, 2010

Intervenção na cerimónia de apresentação da
Comissão de Honra do Distrito da Coimbra
(Casa da Cultura), a 12/10/2010.

POR UM PORTUGAL VERTEBRADO
- Coimbra tem mais encanto na hora da cidadania –

É à sombra tutelar de Sá de Miranda que aqui estamos reunidos e, com ele na nossa memória, estão todos aquelas e aqueles que ajudaram a garantir a preservação de uma identidade, ansiando, sempre, uma pátria ideal, sem dogmas nem preconceitos, nossa, feita de velhas raízes e novos ramos sobre os quais possamos pernoitar e conviver à sombra da sua altura.
Mas a nossa literatura é, como sabem, desde o início, marcada pela errância. Errância pelo mundo, por todos os continentes do Homem.
Talvez Fernando Pessoa seja o exemplo mais universal dessa errância, sem sair do lugar. De uma errância que se fez pelo desdobramento da personalidade, por uma certa forma de navegação espiritual que marca a história do nosso povo.
Ora, Fernando Nobre traz consigo essa marca portuguesa pelo muito que tem vivido e pelo sofrimento que tem partilhado e ajudado a minorar, assim como pelo muito mundo que possui, pela exemplaridade da sua navegação humanitária, reconhecida como singular em todas as latitudes. Ele é a marca desse Portugal que não se resigna a um destino que outros lhe tentam impor. E deixem que vos diga, a sua acção é motora de uma perspectiva em que os países de língua portuguesa, força aglutinadora que hoje se reveste dos mais diversos matizes, deve gerar novos espaços identitários comuns, capazes de ultrapassar as feridas da guerra colonial e as barreiras imperialistas da globalização.
Para isto, basta saber congraçar na independência de cada um, como tão bem faz Fernando Nobre, cumprindo o desejo de Agostinho da Silva.
Essa é a dimensão da candidatura da cidadania, protagonizada pelo Doutor Fernando Nobre, onde a língua portuguesa comum facilita, ajuda e garante a preservação de múltiplas identidades.
É esta a língua dos poetas: a de Camões, Antero, Torga, Nemésio, Sophia, Natália, Manuel Bandeira, Craveirinha, Daniel Filipe, Jorge Gomes Duarte e tantos outros, resultante de um longo percurso histórico, de patrimónios comuns, dos que continuam a acreditar na sua Pátria e numa Europa fraterna e multicultural.

Para que essa Europa fraterna e multicultural seja possível de verdade, é preciso que a democracia portuguesa exista com o povo e pelo povo, sentindo nos representantes que elege proximidade moral. Nós necessitamos de estadistas porque, como sabem, os estadistas são aqueles que pensam nas próximas gerações, ao invés dos políticos, que só sabem pensar nas próximas eleições.
Há muito que não nos víamos tão afastados da acção política e dos seus agentes. Isto não pode continuar assim. Até porque nós, que dia a dia fazemos Portugal, o queremos de cidadãos livres, vertebrados e não de bonecos humanos articulados que votam onde as máquinas partidárias, anuladoras do pensamento próprio lhes mandam.
Dizia o Torga que “A liberdade é uma penosa conquista da solidão”. E era ele, também, que afirmava: “Temos nas nossas mãos o terrível poder de recusar.” Somos, assim, nós, os verdadeiros responsáveis pela situação que o país atravessa, porque não soubemos, ou não sabemos, não quisemos, ou não queremos, ou porque tivemos, ou temos, medo de fazer ouvir a nossa voz. Mas é por isso que estamos aqui. Porque não queremos um presidente que é e não é ao mesmo tempo; que promulga mas não acredita no que promulga; que é escutado mas não é escutado; que convive com conselheiros de estado que nomeia mas não conhece. Nem um candidato a presidente que gosta de ser levado ao colo pelas estruturas partidárias que critica e que, em nome da cidadania, num golpe de mágica, transforma esse apoio comprometedor em libertador.
Sejamos frontais porque é a isso que a democracia nos obriga: Manuel Alegre, para ser coerente, depois da candidatura que protagonizou nas últimas eleições para a Presidências da República, deveria estar com Fernando Nobre, a apoiá-lo na sua Comissão de Honra e, assim, passar o testemunho daqueles que estiveram com a sua candidatura, que acreditaram que era uma candidatura livre, uma candidatura da cidadania.
Mas não. Infelizmente, uma vez mais, Manuel Alegre recua, reinstala-se no lugar dos eleitos ou dos barões da política (e não da República, porque a República não tem barões). Já se esqueceu das críticas que fazia à direcção do seu partido quando dizia que ela perseguia os que não apoiavam a candidatura oficial. Alegre deixa, assim, de ver o que já viu, de ser o que já foi. É, hoje, o candidato da Situação, enquanto Nobre o é da Oposição Democrática. Alegre já não tem ânimo para ser sozinho com o povo. Protagoniza, hoje, a derrota do indivíduo. Sente-se melhor com o partido do Governo e com o partido que, na mesma área política, quer derrotar o partido do Governo.
Por tudo isto, é urgente a mudança e afirmamo-lo citando Eça de Queirós: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.”
O Distrito de Coimbra vai saber responder afirmativamente à chamada. Vai inscrever-se no futuro de Portugal. E, como Gil Vicente o demonstrou na Farsa O Juiz da Beira, vai gritar sem receio: “Olhai vós bem que este sou eu!”
Fernando Nobre terá a coragem beirã de dizer às forças políticas deste país ”Olhai vós bem que este sou eu!”
Nesta pré-campanha temos vindo a assistir a um boicote sistemático dos meios de comunicação, em especial, a televisão, à candidatura de Fernando Nobre. Porque silenciam a voz do candidato da Oposição Democrática? Que medo os faz não aparecer? Querem, a todo o custo, atirar Fernando Nobre para a segunda divisão das presidenciais. Só que esses ainda não entenderam que a primeira divisão é nossa, pertence ao Povo, e não há manipuladores que cheguem para o colocar fora de jogo. O povo é da primeira divisão por mérito, por sacrifício e por resistência. Vai ser ele quem vai colocar em jogo um árbitro justo, capaz de o ser à moda da Beira: “olhai vós bem que este sou eu!” um presidente que nada tenha a ver com um passado de capitulação, nem de ambiguidades e que, ao mesmo tempo, una o país em torno dos valores que devem guiar os povos: a Liberdade, o Amor e a Justiça.
E porque estamos aqui a assumir com frontalidade, com verdade, aquilo que somos, digo-vos que sou republicano, socialista e laico e que quero um presidente que respeite os monárquicos, conservadores e religiosos, para que possamos todos coexistir numa Pátrias eterna.
Minhas queridas amigas, meus queridos amigos, a candidatura do nosso Doutor Fernando Nobre é aquela que dá espaço aos que querem ser cidadãos na sua pátria, que pensam pela sua cabeça em vez de obedecerem a estratégias partidárias.
É como porta-voz do Distrito de Coimbra, da sua Comissão de Honra, que cito um dos seus membros, filho ilustre da Cidade, Luiz Goes: “É a ouvir a voz do povo/é que se aprende a verdade/Quem ama nasce de novo/e vive sem ter idade.”
O povo de Coimbra, do seu Distrito, vai fazer ouvir a sua voz e, cada um, na solidão da sua consciência, vai, no dia vinte e três de Janeiro, dizer de sua justiça “Olhai vós bem que este sou eu!” e Coimbra vai ter “mais encanto na hora da CIDADANIA.
Intervenção na cerimónia de apresentação da Comissão de Honra do Distrito da Coimbra (Casa da Cultura), a 12/10/2010.

CARLOS CARRANCA

sexta-feira, novembro 05, 2010


Rui Pato enviou-me esta fotografia do arquivo de seu pai Rocha Pato. Conjunto instrumental um pouco estranho para a época mas, para acompanhar António Menano numa das suas vindas a Coimbra, foi possível juntar, na República Boa-Bay-Ela, Durval Moreirinhas (v), José Niza (g), Jorge Tuna (g), António Portugal (g) e Paulo Alão (v).

segunda-feira, novembro 01, 2010

José Afonso, ao vivo, no Teatro Avenida, Coimbra, em 1967












José Afonso, acompanhado por Rui Pato, canta no Teatro Avenida de Coimbra, no ano de 1967. O espectáculo foi um estrondoso sucesso, a avaliar pelas palmas que se ouvem na gravação que Jorge Rino fez do espectáculo e que amavelmente cedeu a Rui Pato que, por sua vez me fez chegar às mãos. Na versão que aqui apresento, foram retiradas as palmas.