segunda-feira, novembro 08, 2010

Intervenção na cerimónia de apresentação da
Comissão de Honra do Distrito da Coimbra
(Casa da Cultura), a 12/10/2010.

POR UM PORTUGAL VERTEBRADO
- Coimbra tem mais encanto na hora da cidadania –

É à sombra tutelar de Sá de Miranda que aqui estamos reunidos e, com ele na nossa memória, estão todos aquelas e aqueles que ajudaram a garantir a preservação de uma identidade, ansiando, sempre, uma pátria ideal, sem dogmas nem preconceitos, nossa, feita de velhas raízes e novos ramos sobre os quais possamos pernoitar e conviver à sombra da sua altura.
Mas a nossa literatura é, como sabem, desde o início, marcada pela errância. Errância pelo mundo, por todos os continentes do Homem.
Talvez Fernando Pessoa seja o exemplo mais universal dessa errância, sem sair do lugar. De uma errância que se fez pelo desdobramento da personalidade, por uma certa forma de navegação espiritual que marca a história do nosso povo.
Ora, Fernando Nobre traz consigo essa marca portuguesa pelo muito que tem vivido e pelo sofrimento que tem partilhado e ajudado a minorar, assim como pelo muito mundo que possui, pela exemplaridade da sua navegação humanitária, reconhecida como singular em todas as latitudes. Ele é a marca desse Portugal que não se resigna a um destino que outros lhe tentam impor. E deixem que vos diga, a sua acção é motora de uma perspectiva em que os países de língua portuguesa, força aglutinadora que hoje se reveste dos mais diversos matizes, deve gerar novos espaços identitários comuns, capazes de ultrapassar as feridas da guerra colonial e as barreiras imperialistas da globalização.
Para isto, basta saber congraçar na independência de cada um, como tão bem faz Fernando Nobre, cumprindo o desejo de Agostinho da Silva.
Essa é a dimensão da candidatura da cidadania, protagonizada pelo Doutor Fernando Nobre, onde a língua portuguesa comum facilita, ajuda e garante a preservação de múltiplas identidades.
É esta a língua dos poetas: a de Camões, Antero, Torga, Nemésio, Sophia, Natália, Manuel Bandeira, Craveirinha, Daniel Filipe, Jorge Gomes Duarte e tantos outros, resultante de um longo percurso histórico, de patrimónios comuns, dos que continuam a acreditar na sua Pátria e numa Europa fraterna e multicultural.

Para que essa Europa fraterna e multicultural seja possível de verdade, é preciso que a democracia portuguesa exista com o povo e pelo povo, sentindo nos representantes que elege proximidade moral. Nós necessitamos de estadistas porque, como sabem, os estadistas são aqueles que pensam nas próximas gerações, ao invés dos políticos, que só sabem pensar nas próximas eleições.
Há muito que não nos víamos tão afastados da acção política e dos seus agentes. Isto não pode continuar assim. Até porque nós, que dia a dia fazemos Portugal, o queremos de cidadãos livres, vertebrados e não de bonecos humanos articulados que votam onde as máquinas partidárias, anuladoras do pensamento próprio lhes mandam.
Dizia o Torga que “A liberdade é uma penosa conquista da solidão”. E era ele, também, que afirmava: “Temos nas nossas mãos o terrível poder de recusar.” Somos, assim, nós, os verdadeiros responsáveis pela situação que o país atravessa, porque não soubemos, ou não sabemos, não quisemos, ou não queremos, ou porque tivemos, ou temos, medo de fazer ouvir a nossa voz. Mas é por isso que estamos aqui. Porque não queremos um presidente que é e não é ao mesmo tempo; que promulga mas não acredita no que promulga; que é escutado mas não é escutado; que convive com conselheiros de estado que nomeia mas não conhece. Nem um candidato a presidente que gosta de ser levado ao colo pelas estruturas partidárias que critica e que, em nome da cidadania, num golpe de mágica, transforma esse apoio comprometedor em libertador.
Sejamos frontais porque é a isso que a democracia nos obriga: Manuel Alegre, para ser coerente, depois da candidatura que protagonizou nas últimas eleições para a Presidências da República, deveria estar com Fernando Nobre, a apoiá-lo na sua Comissão de Honra e, assim, passar o testemunho daqueles que estiveram com a sua candidatura, que acreditaram que era uma candidatura livre, uma candidatura da cidadania.
Mas não. Infelizmente, uma vez mais, Manuel Alegre recua, reinstala-se no lugar dos eleitos ou dos barões da política (e não da República, porque a República não tem barões). Já se esqueceu das críticas que fazia à direcção do seu partido quando dizia que ela perseguia os que não apoiavam a candidatura oficial. Alegre deixa, assim, de ver o que já viu, de ser o que já foi. É, hoje, o candidato da Situação, enquanto Nobre o é da Oposição Democrática. Alegre já não tem ânimo para ser sozinho com o povo. Protagoniza, hoje, a derrota do indivíduo. Sente-se melhor com o partido do Governo e com o partido que, na mesma área política, quer derrotar o partido do Governo.
Por tudo isto, é urgente a mudança e afirmamo-lo citando Eça de Queirós: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.”
O Distrito de Coimbra vai saber responder afirmativamente à chamada. Vai inscrever-se no futuro de Portugal. E, como Gil Vicente o demonstrou na Farsa O Juiz da Beira, vai gritar sem receio: “Olhai vós bem que este sou eu!”
Fernando Nobre terá a coragem beirã de dizer às forças políticas deste país ”Olhai vós bem que este sou eu!”
Nesta pré-campanha temos vindo a assistir a um boicote sistemático dos meios de comunicação, em especial, a televisão, à candidatura de Fernando Nobre. Porque silenciam a voz do candidato da Oposição Democrática? Que medo os faz não aparecer? Querem, a todo o custo, atirar Fernando Nobre para a segunda divisão das presidenciais. Só que esses ainda não entenderam que a primeira divisão é nossa, pertence ao Povo, e não há manipuladores que cheguem para o colocar fora de jogo. O povo é da primeira divisão por mérito, por sacrifício e por resistência. Vai ser ele quem vai colocar em jogo um árbitro justo, capaz de o ser à moda da Beira: “olhai vós bem que este sou eu!” um presidente que nada tenha a ver com um passado de capitulação, nem de ambiguidades e que, ao mesmo tempo, una o país em torno dos valores que devem guiar os povos: a Liberdade, o Amor e a Justiça.
E porque estamos aqui a assumir com frontalidade, com verdade, aquilo que somos, digo-vos que sou republicano, socialista e laico e que quero um presidente que respeite os monárquicos, conservadores e religiosos, para que possamos todos coexistir numa Pátrias eterna.
Minhas queridas amigas, meus queridos amigos, a candidatura do nosso Doutor Fernando Nobre é aquela que dá espaço aos que querem ser cidadãos na sua pátria, que pensam pela sua cabeça em vez de obedecerem a estratégias partidárias.
É como porta-voz do Distrito de Coimbra, da sua Comissão de Honra, que cito um dos seus membros, filho ilustre da Cidade, Luiz Goes: “É a ouvir a voz do povo/é que se aprende a verdade/Quem ama nasce de novo/e vive sem ter idade.”
O povo de Coimbra, do seu Distrito, vai fazer ouvir a sua voz e, cada um, na solidão da sua consciência, vai, no dia vinte e três de Janeiro, dizer de sua justiça “Olhai vós bem que este sou eu!” e Coimbra vai ter “mais encanto na hora da CIDADANIA.
Intervenção na cerimónia de apresentação da Comissão de Honra do Distrito da Coimbra (Casa da Cultura), a 12/10/2010.

CARLOS CARRANCA