Carlos Carranca - neste lugar sem portas

quarta-feira, março 31, 2010

GEORGE ORWELL: Uma Biografia Política


Informação recebida da editora Antígona.

GEORGE ORWELL: Uma Biografia Política, de John Newsinger

Nesta obra, traduzida para português por Fernando Gonçalves, John Newsinger, professor de História na Bath Spa University, em Inglaterra, traça a evolução do pensamento político de Orwell, desde os tempos de polícia colonial na Birmânia, quando despertou para a violenta e cruel realidade do Império Britânico, passando pelos seus dias de penúria em Paris e em Londres, até à sua morte.
Marcado pelas experiências na Guerra Civil de Espanha, em que viu a utopia feita revolução traída pelos comunistas ao serviço de Estaline, Orwell viria a tornar-se socialista revolucionário, opondo-se ferozmente ao estalinismo. Esta posição, que manteve até ao fim, valeu-lhe o exílio por parte da esquerda e da direita que, ironicamente, se aproveitaram, e ainda aproveitam, da sua obra literária.

Episódios controversos, como a famigerada «denúncia» de nomes associados à ideologia comunista, ou a sua aversão às atitudes pacifistas de Ghandi, são aqui vistos a uma nova luz e analisados no seu contexto. Num retrato distanciado e bem documentado, Newsinger desvenda-nos um Orwell menos conhecido do leitor comum, mas fundamental para a compreensão das suas concepções políticas – o Orwell combatente, jornalista e ensaísta – e das realidades que viveu.

Espaço Memória dos Exílios


A sala do Espaço Memória dos Exílios tornou-se pequena para acolher a apresentação do livro "Luiz Goes. O Neo-Modernismo na canção de Coimbra ou o Advento da Escola Goesiana". Num espaço onde se vivem as "memórias", fica certamente na memória de todos os que partilharam, nesta tarde, os momentos de encanto...na poesia,...



terça-feira, março 30, 2010

Luiz Goes De ontem, de hoje e de sempre*



Dizia Teixeira de Pascoaes que a voz de Hilário subia nas noites de Coimbra até se ouvir na lua.
Era ele o primeiro grande cantor das inesquecíveis noites de luar da Velha Alta.
Hoje, no dealbar do novo milénio, cem anos depois de Hilário, a voz de Luiz Goes enche a noite, universalizando a toada coimbrã, penetrando fundo na cósmica inquietação do futuro.
A alma de Coimbra é a voz de Luiz Goes e a voz de Luiz Goes é a telúrica e trágica da condição humana.
A sua obra é um momento humano. É obra moça. Não exibe velhices precoces, é fruto de uma personalidade riquíssima, de uma sensibilidade invulgar e de uma visão plural da vida.
- É através de ti, da tua voz, das tuas interpretações, dos teus poemas, que Coimbra ultrapassa os limites da cidade, vai mais longe, vai ao encontro de quem sonha, do homem só, adquire sangue novo.
Chega mais longe porque tu lhe insuflaste a tua própria vida, lhe deste a tua inteligência e tua criatividade inacessíveis aos que de Coimbra se contentam em imitar o estilo, a exibir erudição a contabilizar louvores.
Com Luiz Goes o canto de Coimbra rompe com a «lamechice», desce às raízes, ganha autenticidade e sensualidade.
Luiz Goes não só canta, como escreve sobre nós, e fá-lo apaixonadamente. Os labirintos da nossa alma profunda percorrem as suas canções. São pedaços de nós, de Portugal, de uma paisagem física e humana que visceralmente somos.
Seus versos pedem canto. E o que é cantar? É talvez o meio de sermos por fora o que somos por dentro. É escancarar o que nos vai na alma reduzindo a distância que nos separa. E não há forma mais perfeita de estar com os outros.
Em Luiz Goes habitam as múltiplas influências do trovador inquieto e intemporal, do poeta, do respeitador da tradição no que ela possui de essencial, rejeitando exibicionismos vocais, poéticos saudosismos serôdios e intransigências reaccionárias.
Luiz Goes é um cantor da Saudade. Mas de uma saudade que nos faz compreender que todos nós comparticipamos num ser universal.
Mergulhando as suas raízes sum sebastianismo de raiz popular, não desdenha, estou certo, subescrever a afirmação do poeta de «Marânus»: Em Portugal o que existe é o Povo e os seus Poetas.
Este é o homem que, exteriorizando as suas faculdades de artista, a sua inteligência, a sua emotividade, realizou uma das mais belas e imperfeitas obras que a cidade do Mondego se orgunha: a união da tradição com a modernidade.
Goes consegiu retirar o chamado Fado de Coimbra da modorra em que se encontrava e dar-lhe a dimensão transgressora que os novos tempos exigem, sem o conotar política ou partidariamente.
Na esteira de seu tio Armando Goes, que na opinião de Alberto Serpa era «uma alma medieval em corpo de moiro, o da voz que nos fala e nos faz mal», Luiz Goes prossegue essa herança de inquietude que encontrará exemplarmente personificada no poeta e grande renovador da canção de Coimbra, Edmundo Bettencourt.
Bettencourt foi para Goes a liberdade criativa e o espírito criativo, a própria graça e desgraça do ser humano, alguém que preferia pôr o talento na arte a pô-lo na vida, alguém que o marcou para todo sempre.
Goes viria a representar no panorama da canção coimbrã ainda tardiamente, o espírito da geração da «Presença», singularizando-se. Ele é a Arte Viva, pela originalidade, pela sinceridade.
Luiz Goes realizou, assim, nos anos 60, alguns dos objectivos da «Presença» iniciados no canto e na poesia por Edmundo Bettencourt.
Muito cedo a voz portentosa e cheia de Luiz Goes se impôs como exponente da canção coimbrã.
Ainda na década de 40, integra um grupo de amigos que, no liceu D. Joaõ III, se inicia no chamado Fado de Coimbra. Eram eles: António Portugal, Zé Dias, Costa Brás, Manuel Mora e Zeca Afonso.
Depois foi um nunca mais parar, deixando o seu nome ligado ao Orfeon Académico , à Tuna, ao Grupo Coral da Faculdade de Letras.
Na década de 50, mais uma vez acompanhado por António Portugal, grava um disco memorável, iniciador da viragem qualitativa que há muito se impunha, e que ficou conhecido por «Coimbra Quintet».
Mas é na década de 60, regressado da Guerra Colonial, que o criador e intérprete se revela em todas as suas potencialidades.
Novos rumos de criação poética, novas pautas, novos sons exigem de Goes um mais além que a sua dimensão de artista dramaticamente rasgou, buscando horizontes novos.
Gostará Luiz Goes que neste momento seja recordado o seu amigo João Bagão, virtuoso da guitarra, companheiro imprescindível na razão dos êxitos, partilhados à viola por António Toscano, João Gomes e Durval Moreirinhas.
Assim, em Lisboa, nos anos 60, Coimbra ganhava dimensão de Capital.
Não há memória de a canção de Coimbra ter atingido uma tão grande popularidade.
O Goes ouvia-se por todo o lado. Os seus versos e os do poeta Leonel Neves tomam-se referências obrigatórias em encontros de juventude:


Tu que crês num mundo maior e melhor
Grita bem alto que o céu está aqui
Tu que vês irmãos em redor
Crê que esse mundo começa por ti
(L. Neves)


ou


Ao ouvir a voz do povo
É que se aprende a verdade
Quem ama nasce de novo
E vive sem ter idade
(L. Goes)


As canções incluídas nos LPs de Coimbra de Ontem e de Hoje, Canções do Mar e da Vida, Canções de Amor e de Esperança e Canções para Quase Todos que mereceram, na altura, incompreensão de alguns «puristas» do fado de Coimbra com comentários do género isto é tudo menos Coimbra ou Goes ultrapassou os limites, humildemente reconhecerão hoje que os poetas têm razão antes do tempo, antecipam os acontecimentos que só a juventude sabe compreeender.
É por isto que Goes continua a acreditar. A acreditar nos jovens e nos futuros estudantes da sua terra e de todas as terras, e em todos os homens e mulheres capazes de um olhar virgem em gente «que traga uma palavra amiga, semente de esperança na seara da vida».
- Neste dia, de júbilo comemorativo não consigo encontrar outra maneira de concluir estas palavras senão lendo um curto poema que António Toscano soube compreender, musicando-o, e tu soubeste interpretar, como ninguém. Parece ter nascido para o momento que estamos a viver. É de Miguel Torga. É teu porque honraste assim como terra que foi teu berço e hoje é de novo, o teu lugar do canto – Coimbra.


Aqui, neste país e nesta hora
Aqui, junto dos meus,
Mortos e vivos.
Aqui, de pés atados,
Livre como os balões cativos,
Que pairam, ancorados.


*Discurso proferido por Carlos Carranca, no dia 4 de Julho de 1998, na cerimónia de entrega da Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra a Luiz Goes e publicado no Jornal de Coimbra a 8 de Julho, 98. E em Cascais na apresentação da obra de Jorge Cravo dedicada a Luiz Goes.

sexta-feira, março 26, 2010

BIOGRAFIA DO DR.FERNANDO NOBRE











quinta-feira, março 25, 2010

FERNANDO NOBRE EM ENTREVISTA À REVISTA SÁBADO

LUIZ GOES EM CASCAIS [Sábado,Março 27]


CONVITE

A Câmara Municipal de Cascais,
as Edições MinervaCoimbra e o Autor
têm o prazer de convidar
para a apresentação do livro

LUIZ GOES - O Neo-Modernismo na Canção de Coimbra ou o Advento da Escola Goesiana

de Jorge Cravo.

A apresentação será feita pelo Prof. Doutor Luis Reis Torgal,
seguindo-se uma alocução sobre Luiz Goes pelo poeta Carlos Carranca.

Participação do Grupo da Canção de Coimbra "Porta Férrea".

A sessão realiza-se no dia 27 de Março, pelas 15H30, no Espaço Memória dos Exílios
(Avª. Marginal, 7152-A - edifício dos CTT).

domingo, março 21, 2010

Com Frei Bento Domingues sou pela POÉTICA DO AMOR E PELA PROSA DA JUSTIÇA.

C. Carranca

quinta-feira, março 18, 2010

RECORDANDO CARLOS COUCEIRO
(Carta de Santos Silva a Carlos Carranca)


Prezado Amigo
Carlos Carranca:
16/03/2010

O falecimento do nosso querido Amigo Carlos Couceiro deixou-me abalado (mesmo sabendo há muito que aquela doença, naquela idade, era fatal). O Carlos e o Zeca foram os meus dois grandes amigos da juventude (direi mesmo, da vida). Tão diferentes que eram, ambos exerceram em mim um fascínio especial. Sobre o Zeca já disse tudo no caderno de recordações a que dei o título de “Zeca Afonso Antes do Mito” (salvo aquelas emoções mais íntimas e finas, que são indizíveis). Sobre o Carlos têm-me vindo à memória coisas que andavam adormecidas: cenas, conversas, fragmentos de vivências, o som peculiar das suas risadas, a vibração da sua vitalidade, do seu calor humano que irradiava…
Às vezes pergunto-me: será possível que tudo Aquilo que ele era, tanto fogo, tanto Sol, tanta abundância de talentos, esteja agora reduzido a um punhado de cinzas? Noutro dia, a minha Mulher deu-me uma resposta sábia: “pensa que não é um ‘punhado de cinzas’ mas, sim, uma mão cheia de boas memórias – vive-se enquanto se é lembrado por algum coração…”

Nos últimos anos, o Carlos e eu mantivemos um relacionamento assíduo: eu escrevia-lhe e ele telefonava-me. Ao rever algumas das minhas cartas, guardadas na memória do PC, encontrei algumas engraçadas. Vou transcrever-lhe uma, na parte que fala da nossa pequena “república”, que o Carlos baptizou de Sobado Kàkulo, em homenagem a um soba lendário que existiu na zona do Lobito (da etnia Ubúndu).
Situava-se, tal “república”, no 1.º andar da última casa da Couraça dos Apóstolos (ao fundo, à direita), em plena Alta antiga. Era uma “república” só de dormir e estudar, pois não tinha cozinha em condições (nem havia empregada permanente) e a retrete era um cubículo estreito[1] onde nem dava jeito tomar banho: aos domingos íamos ao hospital velho, aos balneários públicos, onde se podia tomar duche à descrição ou mergulhar numas antiquíssimas e enormes banheiras (salvo erro, custava 1$00 com direito a toalhão). A “república” tinha um salão com três camas e mais dois pequenos quartos. Normalmente, viviam lá cinco ou seis, a que se juntavam, por vezes, alguns adventícios (entre os quais o Zeca, quando se zangava com a Mulher, a Maria Amália). Que estudante, hoje, se sujeitaria a tal “conforto”? Mas a renda era em conta: 240$00 (40$00 por cabeça), e o senhorio pouco exigente na data do pagamento. A vizinhança era, também, simpática e conivente (apanhava-nos a roupa que caía da corda de secar, avisava-nos da aproximação dos funcionários que vinham cortar a água/luz…); à frente havia uma pequena mercearia que nos fiava, se necessário, alguma bucha para acalmar a fome (pão com chouriço, carapaus de escabeche, bolachas torradas, cervejas…). Era giro – sobretudo, descontraído e fraterno!

Pois aqui vai, então, o extracto da carta acima referida:

“Há alguns dias, ao relembrar com saudade o meu tio Joaquim (o tio Quim, como lhe chamávamos), irmão de minha mãe – o boémio da família, memorialista da Coimbra antiga, escritor e conversador infatigável, que passava o tempo nas tascas e casas de má fama da Baixa – ‘Quando não bebo pelo menos 12 bicas por dia, já não consigo dormir’, dizia –, veio-me à lembrança uma cena engraçada que ocorreu com ele na nossa saudosa República do Sobado Kàkulo.
“Entrei para a “república” em princípios de 1952, viviam lá, então: tu, o Júlio, o Serafino e o Rodriguez. Nesse ano, eu que era um aluno razoável, estava a afundar-me: a convivência com o Zeca Afonso (simultaneamente, rica e depressiva), a falência financeira do meu pai, um sarilho amoroso-sexual em que me envolvi na casa onde estava hospedado, etc, deitaram-me abaixo. Adoeci (psicologicamente), cheguei a pontos de perder toda a sensibilidade do corpo, dos pés ao pescoço – um grande susto! Como consequência, perdi esse ano (desisti a meio da prova oral de Física, com o Dr. Almeida Santos): o meu primeiro e único chumbo. Em Outubro desse ano, tu foste para o Porto (Engenharia) e eu fiquei na “república”, mais um ano, a marcar passo.
“Foi nessa época (se não me engano) que o Jorge Serafino, com o seu jeitão para o desenho, se meteu a decorar a sala grande da “república” transformando-a na Sala Sextina, numa paródia à Capela Sistina do Vaticano. Nas paredes, ninfas semi-desnudas esvoaçavam e, sobre as cabeceiras das camas, musas, de seios opulentos e oferecidos, acolhiam-nos quando acordávamos… E, num dos cantos das paredes-tecto, desenhou uma escada e um alçapão para um imaginário sótão, e, no topo da escada, umas pernas e um rabo de mulher, como se fosse a subir – a ilusão era perfeita!
“Ora num belo dia, o meu tio Quim (que tinha estado com os meus pais, em Vila Cortês) veio bater à porta da “república” para me entregar uma encomenda da minha mãe (talvez um bolo). Eu, que ainda estava deitado, levantei-me em pijama e fui abrir a porta, sem saber quem era. O meu tio entrou na sala, contemplou o “harém” das paredes e, nisto, deu com os olhos no canto da sala onde havia a tal escada desenhada, o alçapão e a “rapariga” a subir, meia entrada já no “sótão”. O tio Quim estacou! Atirou-me o embrulho para as mãos e saiu porta fora. Eu fui atrás dele a chamá-lo. Desceu as escadas e, antes de sair para a rua, respondeu-me: “Diz à rapariga que desça. Eu não lhe mordia, também já fui rapaz!”.
“Por mais que, depois, lhe contasse a verdade, nunca acreditou. E, possivelmente, o meu chumbo daquele ano ficou, para ele, a dever-se à rambóia que se vivia na Sobado Kàkulo, com ninfas e musas desenhadas sobre as camas e raparigas verdadeiras a fugirem pela escada do sótão…
“E é assim que algumas vezes se inventa a história…”

O Carlos adorou esta peripécia e eu, de quando em vez, contava-lhe outras. Mas agora já não dá…

Receba um abraço de amizade – reforçado com a que o Carlos lhe tinha, como ele muitas vezes me disse. Comprimentos também para a sua Rosinha.

Santos Silva

terça-feira, março 16, 2010

Zeca vivido na Escola de Teatro de Cascais

Qual a melhor maneira de recordar Zeca Afonso depois de vinte e três anos ocorridos desde o seu falecimento? Evocar a sua obra através das suas palavras e das suas canções.
E porque não juntar a isto um grande amigo do Zeca? E ainda outro amigo? Quase que apetece dizer que viessem mais cinco, mas foram dois os ilustres visitantes que a Escola Profissional de Teatro de Cascais teve o prazer de acolher na tarde do dia 15 de Março: Durval Moreirinhas e Teotónio Xavier. Através do professor Carlos Carranca e dos alunos da escola, conseguiu-se uma tarde de grande confraternização onde se cantaram canções emblemáticas como "Canto Moço" ou "Os Vampiros", tudo isto graças à mestria dos dois grandes músicos já mencionados. Ouvimos, pela boca dos nossos convidados, histórias que mostram o grande carácter do Zeca e recordámo-lo ainda através de umas palavras escritas por Urbano Tavares Rodrigues no seu último livro. Evocámos ainda dois grandes nomes ligados à canção de Coimbra (e não só): Adriano Correia de Oliveira e Luiz Goes. Tempo ainda para lembrar a guitarra de Artur e Carlos Paredes, e até para tocar uma composição de Almeida Santos.
Um exemplo como o do Zeca não pode ser lembrado apenas em alturas de evocações, é preciso cantá-lo diariamente para alguns eunucos que ainda possam andar por aí; a juventude anda atenta e sussurra baixinho: "...não me obriguem a vir para a rua gritar...".
O nosso património não é apenas feito de pedras, temos um património humano de excelência, uma cultura humana e artística. Lembremos sempre o Zeca, e que nos cantem canções de embalar apenas quando nós quisermos...








Renato Pino, aluno finalista da Escola Profissional de Teatro de Cascais

sexta-feira, março 12, 2010

A ARTE DA NARRATIVA ESTÁ A CHEGAR AO FIM PORQUE HÁ UM LADO ÉPICO DA VERDADE E DA SABEDORIA QUE ESTÁ A MORRER.

Walter Benjamin

DURVAL MOREIRINHAS

na Escola Profissional de Teatro de Cascais

2ª feira , dia 15, pelas 16.30, na ESCOLA PROFISSIONAL DE TEATRO DE CASCAIS, realiza-se uma sessão evocativa de JOSÉ AFONSO que tem como convidado DURVAL MOREIRINHAS acompanhado por Teotónio Xavier. Esta realização deve-se ao empenhamento dos alunos finalistas de escola no âmbito da disciplina de Integração leccionada por Carlos Carranca.

A sessão é aberta.

segunda-feira, março 08, 2010

Faleceu Carlos Couceiro








Carlos Couceiro (em baixo) com José Afonso

O José Afonso foi meu colega desde o 4º ano de Liceu e aí começaram as primeiras gui­tarradas e os primeiros fados de rua que era a maneira de nós não sermos derrapados, lá em Coimbra, com o Mário Barroso.
Saíamos para as nossas noitadas desde que se cantasse e tocasse bem ou mal, e ele cantava bem e o Barroso tocava muito bem, eu é que era o mais incipiente. Fomos colegas desde o 4º ano, e mais, vim a ser seu compadre, padrinho do seu primeiro filho.
Estava eu na Faculdade de Engenharia no Porto, quando recebi um recado dele, à sua boa maneira: "Quero que sejas o padrinho do meu filho". E lá fui eu para o notário da Avenida da Sofia com a minha comadre, uma moça de Pinhel, a Leia. Entretanto, o José Afonso foi dando os nomes e as datas do pai, da mãe e dos avós e daquelas coisas todas que lhe pediam, até que o notário the perguntou: "Em que dia é que nasceu a criança?..." e ele: "Eh, pá, em que dia é que nasceu o meu filho???" E eu disse: "17 de Janeiro de 1952". Histórias...! ele tem tantas... Uma em que ele quer receber a Tuna Académica de Coimbra que vinha de Nova Lisboa, em Angola, para o Lobito, no Caminho de Ferro. Ele pertencia à Comissão de Recepção. Eu já não via o Zeca há seis anos. Ele saíu do comboio dirigiu-se a mim e disse-me: "Eh pá, esta malta agora tem um sentido exagerado de propriedade,", e eu perguntei-lhe: "Porquê, pá?" E ele explicou: "Olha quando me levantei, calcei as meias do parceiro que vinha na cabine, comigo, e o tipo refilou tanto, tanto, que eu estive a quase a ir-lhe ao focinho..."
Outra vez, ainda no Liceu, quando apareceu o aspecto ortográfico de acentuação, o Zeca nas aulas de Português dizia "Estando os conégos da Se com os cotóvelos apoiados numa mesa de pau de ebâno bebendo uma pinga de cáfe, estando uma menina a ler, diz um deles: "Ai que bem que a menina le", pois ainda não é nada, porquanto ainda vamos no prológo quando formos no epilógo das formigas...! E muitas outras mais... Há muitas coisas que se sabe pouco dele, eu devo dizer, para mim, que o Santos Silva, engenheiro na Figueira, o Manuel Nemésio, filho do Vitorino Nemésio que o conhecemos na intimidade desde crianças, sabemos da sua generosidade, da sua coragem e da sua energia física. Nós punhamos as capas em cima da cabeça e ele saltava aquilo. Na Universidade ele corria muito bem... e como é que aquele homem vem a morrer com aquela doença de atrofias musculares ele que era de uma elasticidade física como poucos.
Era uma pessoa de grande coragem, pois por vezes em situações de grandes conflitos, em que ele não se metia, mas que não arredava pé.
Dizer dele, que era um homem de boa fé, duma descuidada ingenuidade, um homem bom e assim vivíamos. Convidou-me no dia seguinte ao casamento dele, que fez com umas testemunhas quaisquer, que encontrou. Sentei-me e comi com ele, o primeiro prato de bacalhau com duas batatas, no quarto dele no Beco da Carqueja, era um Beco que havia mesmo em frente da Sé Velha, e ele vivia ali no 3º andar.
Muitas vezes encontrei o Zeca Afonso a dormir na minha cama na minha "República" e eu a ter que me deitar num colchão no chão, porque ele não aceitava que o fossem tirar da cama onde dormia, aquilo era dele. São alguns pormenores que posso contar. Falar dele é falar de muita saudade. São muitos os episódios, mas acho que o António Fernandes Santos Silva engenheiro da Figueira da Foz, tem um livro que traz umas histórias sobre o Zeca. O Santos Silva, julgo que foi a pessoa que melhor retratou a vida do Zeca. O resto, floriram, e na minha opinião exploraram a pessoa que ele era. Nalgumas coisas, utilizaram a sua maneira de ser mas este, o Santos Silva, deu em toda a sua beleza a sua grande dimensão com a amizade de irmão.

Carlos Couceiro

sábado, março 06, 2010

ATÉ SEMPRE, COMPANHEIRO!






MEMÓRIAS DE CARLOS COUCEIRO

Carlos Alberto Martins Couceiro nasceu no Lobito, Angola, a 03 de Janeiro de 1930. Aí estudou até aos 15 anos, vindo depois para Coimbra, sua terra de adopção e que tão vincadamente o marcou, onde concluiu o liceu (D. João III). Surgem então as primeiras poesias, tão de braço dado com a guitarra e os desportos. Faz os Preparatórios de Engenharia e transita de seguida para o Porto onde conclui o Curso de Engenharia Civil. Uma breve passagem por Lisboa – onde continua a viver com a madrugada – e depois o almejado regresso a Angola.
Em 1974 volta a Lisboa onde toma base para circular pela Arábia Saudita, pelos Emiratos Árabes, pela Líbia e por Angola. Ainda no Liceu obtém, em poesia, uma Menção Honrosa nos Jogos Florais da
Queima das Fitas da Universidade de Coimbra. Já em Angola são-lhe conferidos, por diversas vezes, Prémios e Menções Honrosas nos Jogos Florais do C. F. B. e nos Jogos Florais Luso-Brasileiros da C.U.F. Vive no intervalo das horas. E quanto, assim!, desleixa de vocação poética e desaproveita de natural intuição para as Matemáticas Superiores. E quantos poemas ficados em apontamentos perdidos ou na memória que acabou por esquecê-los!… Está com Bertrand Russel na sua lógica matemática, no seu socialismo humanista, na sua filosofia dos temas simples, no seu agnosticismo. Apoia a sua inserção social na Tolerância, na Bondade, na Verdade e na Justiça, de onde recolhe Amigos de todos os quadrantes sociais, políticos e religiosos. Tem como principais passatempos os desportos, a guitarra e a poesia.

sexta-feira, março 05, 2010



quinta-feira, março 04, 2010



in Mensageiro de Santo António (Revista Franciscana) , n.ºs 1 e 3 de 2010

segunda-feira, março 01, 2010

Esclarecimento

A propósito do artigo “ Fernando Nobre ” com data de sábado 20 de Fevereiro de 2010, publicado no Blog
Mainstreet segundo o qual me dá como "arqui-inimigo" de Manuel Alegre, este só serve aqueles que rastejam na política dos interesses, da calúnia e da conspiração. Sou para além de admirador confesso do poeta Manuel Alegre, seu amigo. Muitos foram os nossos encontros desde o tempo da “ Jornada de Africa”, passando pela comemoração dos trinta anos da “Praça da Canção” na Universidade Lusófona de Lisboa e pela minha integração, de que muito me orgulho, na sua comissão de honra à presidência.
Nenhum de nós merce esta baixeza.
Deixo-vos um verso de Alegre:
“ Que somos nós senão o que fazemos? ”

Carlos Carranca
01/02/2010