segunda-feira, junho 18, 2007

MIGUEL TORGA


Quantas vezes soletro o teu nome,
Mi-guel Tor-ga!...
A última é sempre a vez primeira.
Na fogueira
do teu nome,
sou eu quem se consome
- ritual da Paixão
de ter escrever.

Lembras-te da mística Santa Teresa?
"…morro por não morrer,"
sentimento trágico - beleza!
Como o outro da Ibéria
também tu fazes pombas de papel,
livres vão
de Coimbra ao fim do mundo.

E eu
na fome de te nomear
do chão de Federico
ergo-me feliz p'ra te cantar.
-D. Miguel!... (olho o céu, hesito).

Pombas de papel branco
com marcas de um azul da cor do mar,
entram, regressadas não sei donde, pela janela
do Poeta. E tu, num banco,
olhando as horas sobre o rio, olhas o casario
e os versos que da janela
vão abrindo as asas para ti,
que os vens cumprimentar.


In: Neste Lugar sem Portas