Palavras ao meu coração
(No ano do centenário do nascimento de Miguel Torga)
Por: Carlos Carranca
O problema nuclear da obra de Torga é a sua negação de Deus que, em vez de o afastar do problema religioso, o aproxima, partindo da sua própria insubordinação. Como um filho que não aceita o autoritarismo do pai, Torga rebela-se contra, sem deixar de precisar Dele para continuar a existir em rebeldia, afirmando a sua individualidade. E não há forma mais absoluta de afirmar a presença de algo do que, obstinadamente, contestar-lhe o poder ou, simplesmente, opor-se-lhe, sempre. Quanto mais absoluto for o poder do Pai, mais absoluta é a sua condição terrena de rebelde. Torga nunca aceitará a morte de Deus, nunca será capaz de afirmar com Nietzsche “Deus está morto”, pela simples razão de que perderia sentido a sua luta. Os mortos não se combatem.
A razão da sua obra está nessa carga dramática, direi, mesmo, tragica luta de poeta, contra a vontade arbitrária de um Deus sem rosto: Como desenlace da acção permanente, só a morte, porque existir é desespero e angústia como breves momentos de alegria e de riso – o drama humano de cinzelador do seu próprio perfil, da sua própria fisionomia.
Entre Torga e Deus há como que uma relação de cumplicidade, dependendo um do outro: Deus, exercendo a Sua força e poder absolutos, Torga, medindo a sua insubordinação, salvando-se em humanidade obstinada e trágica.
Viver sem Deus e contra Deus não significa negar a Sua existência, antes pelo contrário, reforça a determinação de Poeta que teima em não lhe obedecer, nem a tê-Lo como modelo para a sua existência concreta.
A presença de Deus nem o intimida, nem atemoriza a subversiva sinceridade de Artista: “Deus é imenso. / Mas nem eu lhe pertenço / Nem é por ele que a minha angústia chama”.
Monte-Estoril, 28.V.2007
(No ano do centenário do nascimento de Miguel Torga)
Por: Carlos Carranca
O problema nuclear da obra de Torga é a sua negação de Deus que, em vez de o afastar do problema religioso, o aproxima, partindo da sua própria insubordinação. Como um filho que não aceita o autoritarismo do pai, Torga rebela-se contra, sem deixar de precisar Dele para continuar a existir em rebeldia, afirmando a sua individualidade. E não há forma mais absoluta de afirmar a presença de algo do que, obstinadamente, contestar-lhe o poder ou, simplesmente, opor-se-lhe, sempre. Quanto mais absoluto for o poder do Pai, mais absoluta é a sua condição terrena de rebelde. Torga nunca aceitará a morte de Deus, nunca será capaz de afirmar com Nietzsche “Deus está morto”, pela simples razão de que perderia sentido a sua luta. Os mortos não se combatem.
A razão da sua obra está nessa carga dramática, direi, mesmo, tragica luta de poeta, contra a vontade arbitrária de um Deus sem rosto: Como desenlace da acção permanente, só a morte, porque existir é desespero e angústia como breves momentos de alegria e de riso – o drama humano de cinzelador do seu próprio perfil, da sua própria fisionomia.
Entre Torga e Deus há como que uma relação de cumplicidade, dependendo um do outro: Deus, exercendo a Sua força e poder absolutos, Torga, medindo a sua insubordinação, salvando-se em humanidade obstinada e trágica.
Viver sem Deus e contra Deus não significa negar a Sua existência, antes pelo contrário, reforça a determinação de Poeta que teima em não lhe obedecer, nem a tê-Lo como modelo para a sua existência concreta.
A presença de Deus nem o intimida, nem atemoriza a subversiva sinceridade de Artista: “Deus é imenso. / Mas nem eu lhe pertenço / Nem é por ele que a minha angústia chama”.
Monte-Estoril, 28.V.2007
2 Comments:
É caso para dizer... "O destino destina... e o resto é comigo..."
Abraço
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