"Li os 7 Poemas para Carlos Paredes, autêntica oração à guitarra portuguesa".
António Pinho Brojo
A Guitarra portuguesa, segundo parece, emergiu timidamente, na segunda metade do século XVIII, da sua homónima inglesa. Foi-se arrastando desenraizada e subalterna pelos salões - ou tangida pelo povo sem uma técnica própria valorativa, enredada em estruturas musicais amorfo-repetitivas. Personalizou-se no século XX. Em Coimbra adquiriu uma sonoridade particular (adequada à mensagem apelativa das serenatas), fruto de um longo diálogo entre Artur Paredes e o guitarreiro Kim Grado (continuado, mais tarde, com o irmão João Pedro Grado e seu filho Gilberto). A Lusa-Atenas foi o cadinho onde se fundiram especificidades culturais do País. A guitarra e o denominado fado de Coimbra ganharam afirmação e contorno peculiares com a f arnosa geração dos anos vinte -principalmente Artur Paredes e Edmundo de Bettencourt, entre outros, que se eximiram às tradicionais lamechices, rodríguinhos e extensões exibicionistas de voz (mais características da ópera ou canção napolitana). Artur Paredes hauriu, em boa pane, o Sopro Renovador no movimento literário da "Presença", nomeadamente dos seus amigos José Régio (que o exaltou na famosa "Balada de Coimbra "), Edmundo de Bettencourt e Branquinha da Fonseca.
Carlos Carranca ordenou a presente poesia segundo uma bem cuidada dialéctica. Primeiramente, a guitarra de Artur Paredes (explícito ou não), como revelação lírica e mágica de Coimbra - Sala de Espelhos do Saudosismo. Depois, em subtil solução de continuidade, a atenção de quem lê amplia-se até ao universal Carlos Paredes (ainda saudosismo: Passado-Presente-Futuro). A guitarra — ligada umbilicalmente às serenatas, lunar -exige qualidades de vigor e interpretação masculinas, solares, para ser conquistada.
Intui isso Carlos Carranca:
"Guitarra, meu amor de raiz/minha mulher encordoada..."
Com Carlos Paredes a guitarra transbordou para o Mundo, acompanhando a Epopeia dos Portugueses (as caravelas, a diáspora dos emigrantes...):
"Guitarra, meu bordão de peregrino!.../
(...)... "Senhora de Portugal/
Guitarra-nossa-condição/ Guitarra-povo./
Guitarra Universal!".
Diz-nos, num trilho nitidamente pascoalino, José Carlos de Vasconcelos: "na música e na guitarra de Paredes sinto, numa espécie de síntese dialéctica, a memória (vivida) do passado e a saudade (sonhada) do futuro".Caiu-se num Impasse. O Medo e a Descrença manietam a Alma Lusa. Cabe aos Poetas descobrirem a Vela Propulsora Interior que levará à conquista de Novos Mares. Carlos Carranca busca, também, dissipar o nevoeiro pessoano e chegar a Porto Seguro:
"Oh guitarra lusitana!/
Oh harpa das loucas correrias!/
Salgado mar das fantasias.../
É a voz do povo que te chama!/
Redentora.e fraternal,/
és tu quem anuncia/ a hora da alegria/
de se de novo/
o Povo/
o Rei de Portugal".
Leiam e admirem a singular acutilância sintética da linguagem pessoal do poeta Carlos Carranca, no envolvimento vivificante da Guitarra nos nossos grandes mitos - passando, doravante, ater potencialidades mágicas, motoras, no renascimento de Portugal.
Teotónio Xavier
in 7 poemas para Carlos Paredes
edições Universitárias Lusófonas, 1996.
António Pinho Brojo
A Guitarra portuguesa, segundo parece, emergiu timidamente, na segunda metade do século XVIII, da sua homónima inglesa. Foi-se arrastando desenraizada e subalterna pelos salões - ou tangida pelo povo sem uma técnica própria valorativa, enredada em estruturas musicais amorfo-repetitivas. Personalizou-se no século XX. Em Coimbra adquiriu uma sonoridade particular (adequada à mensagem apelativa das serenatas), fruto de um longo diálogo entre Artur Paredes e o guitarreiro Kim Grado (continuado, mais tarde, com o irmão João Pedro Grado e seu filho Gilberto). A Lusa-Atenas foi o cadinho onde se fundiram especificidades culturais do País. A guitarra e o denominado fado de Coimbra ganharam afirmação e contorno peculiares com a f arnosa geração dos anos vinte -principalmente Artur Paredes e Edmundo de Bettencourt, entre outros, que se eximiram às tradicionais lamechices, rodríguinhos e extensões exibicionistas de voz (mais características da ópera ou canção napolitana). Artur Paredes hauriu, em boa pane, o Sopro Renovador no movimento literário da "Presença", nomeadamente dos seus amigos José Régio (que o exaltou na famosa "Balada de Coimbra "), Edmundo de Bettencourt e Branquinha da Fonseca.
Carlos Carranca ordenou a presente poesia segundo uma bem cuidada dialéctica. Primeiramente, a guitarra de Artur Paredes (explícito ou não), como revelação lírica e mágica de Coimbra - Sala de Espelhos do Saudosismo. Depois, em subtil solução de continuidade, a atenção de quem lê amplia-se até ao universal Carlos Paredes (ainda saudosismo: Passado-Presente-Futuro). A guitarra — ligada umbilicalmente às serenatas, lunar -exige qualidades de vigor e interpretação masculinas, solares, para ser conquistada.
Intui isso Carlos Carranca:
"Guitarra, meu amor de raiz/minha mulher encordoada..."
Com Carlos Paredes a guitarra transbordou para o Mundo, acompanhando a Epopeia dos Portugueses (as caravelas, a diáspora dos emigrantes...):
"Guitarra, meu bordão de peregrino!.../
(...)... "Senhora de Portugal/
Guitarra-nossa-condição/ Guitarra-povo./
Guitarra Universal!".
Diz-nos, num trilho nitidamente pascoalino, José Carlos de Vasconcelos: "na música e na guitarra de Paredes sinto, numa espécie de síntese dialéctica, a memória (vivida) do passado e a saudade (sonhada) do futuro".Caiu-se num Impasse. O Medo e a Descrença manietam a Alma Lusa. Cabe aos Poetas descobrirem a Vela Propulsora Interior que levará à conquista de Novos Mares. Carlos Carranca busca, também, dissipar o nevoeiro pessoano e chegar a Porto Seguro:
"Oh guitarra lusitana!/
Oh harpa das loucas correrias!/
Salgado mar das fantasias.../
É a voz do povo que te chama!/
Redentora.e fraternal,/
és tu quem anuncia/ a hora da alegria/
de se de novo/
o Povo/
o Rei de Portugal".
Leiam e admirem a singular acutilância sintética da linguagem pessoal do poeta Carlos Carranca, no envolvimento vivificante da Guitarra nos nossos grandes mitos - passando, doravante, ater potencialidades mágicas, motoras, no renascimento de Portugal.
Teotónio Xavier
in 7 poemas para Carlos Paredes
edições Universitárias Lusófonas, 1996.
1 Comments:
"A Guitarra portuguesa, segundo parece, emergiu timidamente, na segunda metade do século XVIII, da sua homónima inglesa. "
Segundo o que li,ouvi e vi, isto não é verdade.
A guitarra portuguesa não emergiu da dita inglesa. Se observar a entrada principal do mosteiro da Batalha, no canto esquerdo, encontrará ao lado dos envangelistas, um anjo tocador de guitarra portuguesa.
Cumprimentos
Manel
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