O coração ao pé da boca*
Na nota prévia deste livro, o autor, define-o como sendo apenas textos curtos e nada mais do que isso.
Pois eu proponho uma alteração, e faço-lhe referência como sendo - textos curtos e muito mais do que isso - já que esses pequenos textos, ao mesmo tempo ágeis e virtuosos, percorrem sentimentos e vivências, opiniões esclarecidas e reflexões do poeta, aceitando ou discutindo ideias e ideais, questionando a política, a ética, reclamando sonhos e futuro.
O titulo -O coração ao pé da boca - levou-me a pensar que este seria um livro de desabafos, dominando a emotividade sobre a razão. Depois da primeira leitura obriguei-me à procura desse confronto. Confesso que não o encontrei. Ao interrogar-me sobre a natureza do livro pensei em falar com o Carranca, em perguntar-lhe o porquê deste título, intrigava-me, porque tudo o que lia fazia sentido, concordando ou não, os textos eram matéria lógica, não eram devaneios. Decidi não lhe telefonar e tentar eu mesma destrinçar esta meada.
Equacionei de novo a frase - O coração ao pé da boca - e em vez de pensar na escrita pensei no escritor ... e nessa terceira leitura, achei a resposta. É que o coração do poeta são os seus olhos para o mundo, é que este autor vê o mundo com um coração limpo e grande. É o coração que fala, porque é o coração que sabe, repito o que já disse uma vez, não se duvida de sentimentos assim expostos. Com profundo conhecimento do nosso presente e passado recente, acompanhamo-lo nesse interesse pela palavra escrita diária. Actual nos contínuos exemplos de leitura critica de jornais e artigos de opinião, leva-nos pelo mundo de hoje, que se transforma nessa prosa clara e, vemos agora, onde antes só existiam factos, surgir ideias.
Porque este poeta emprestado à política torna visível a crítica construtiva, firmemente baseada era ideais, que sabe sempre separar o que parece daquilo que é, vamos pela mão destes pequenos textos até ao fundo das coisas, conduzidos pela ironia hilariante do deputado Henrique Neto e o "cavador" Fernando Rebelo, pelo tom sério de O novo centro, pelo fugaz desalento de Escrever para quê.
Penso que, talvez por ser professora, por defeito de profissão, que este é um livro vocacionado para os jovens. Recorrendo a exemplos, citações, factos, não é livro para ser colocado na estante da literatura, mas para ficar à mão, utilíssimo nas aulas de debate, abrindo-o nesta ou naquela passagem para melhor esclarecer uma ideia.
Na síntese final existe uma mensagem objectiva de incentivo à criação, à coragem de inovar, de se arriscar soluções de um mundo como nós o queremos, em desfavor do facilitismo material que cerca novos e velhos. E essa é a mensagem que se quer para o futuro ou pelo menos que o futuro entenda como possível lutar pelo impossível.
Sendo essencialmente um livro de opinião política é também autobiográfico. Quem conhece o Carlos Carranca lê estas crónicas ouvindo-o, reconhece as suas palavras e atitudes e muitas vezes os seus gestos, olhando-nos, ou vendo mais longe.
Sempre admirei na sua obra a capacidade de nos entusiasmar com a crueza das suas palavras, que têm para mim a clareza fácil daquela simplicidade muito difícil de conseguir. Os seus escritos não são feitos para nos seduzir ou intimidar, os seus são textos inteiros e que bem alto - tom de voz tão oposto ao da sedução - nos confrontam com o homem e a sua posição no mundo, na capacidade que tem o seu grito em ser a voz que acreditamos pode fazer-se ouvir.
Ana Clara Justino
* Universitária Editora. Lx, 2001.
Na nota prévia deste livro, o autor, define-o como sendo apenas textos curtos e nada mais do que isso.
Pois eu proponho uma alteração, e faço-lhe referência como sendo - textos curtos e muito mais do que isso - já que esses pequenos textos, ao mesmo tempo ágeis e virtuosos, percorrem sentimentos e vivências, opiniões esclarecidas e reflexões do poeta, aceitando ou discutindo ideias e ideais, questionando a política, a ética, reclamando sonhos e futuro.
O titulo -O coração ao pé da boca - levou-me a pensar que este seria um livro de desabafos, dominando a emotividade sobre a razão. Depois da primeira leitura obriguei-me à procura desse confronto. Confesso que não o encontrei. Ao interrogar-me sobre a natureza do livro pensei em falar com o Carranca, em perguntar-lhe o porquê deste título, intrigava-me, porque tudo o que lia fazia sentido, concordando ou não, os textos eram matéria lógica, não eram devaneios. Decidi não lhe telefonar e tentar eu mesma destrinçar esta meada.
Equacionei de novo a frase - O coração ao pé da boca - e em vez de pensar na escrita pensei no escritor ... e nessa terceira leitura, achei a resposta. É que o coração do poeta são os seus olhos para o mundo, é que este autor vê o mundo com um coração limpo e grande. É o coração que fala, porque é o coração que sabe, repito o que já disse uma vez, não se duvida de sentimentos assim expostos. Com profundo conhecimento do nosso presente e passado recente, acompanhamo-lo nesse interesse pela palavra escrita diária. Actual nos contínuos exemplos de leitura critica de jornais e artigos de opinião, leva-nos pelo mundo de hoje, que se transforma nessa prosa clara e, vemos agora, onde antes só existiam factos, surgir ideias.
Porque este poeta emprestado à política torna visível a crítica construtiva, firmemente baseada era ideais, que sabe sempre separar o que parece daquilo que é, vamos pela mão destes pequenos textos até ao fundo das coisas, conduzidos pela ironia hilariante do deputado Henrique Neto e o "cavador" Fernando Rebelo, pelo tom sério de O novo centro, pelo fugaz desalento de Escrever para quê.
Penso que, talvez por ser professora, por defeito de profissão, que este é um livro vocacionado para os jovens. Recorrendo a exemplos, citações, factos, não é livro para ser colocado na estante da literatura, mas para ficar à mão, utilíssimo nas aulas de debate, abrindo-o nesta ou naquela passagem para melhor esclarecer uma ideia.
Na síntese final existe uma mensagem objectiva de incentivo à criação, à coragem de inovar, de se arriscar soluções de um mundo como nós o queremos, em desfavor do facilitismo material que cerca novos e velhos. E essa é a mensagem que se quer para o futuro ou pelo menos que o futuro entenda como possível lutar pelo impossível.
Sendo essencialmente um livro de opinião política é também autobiográfico. Quem conhece o Carlos Carranca lê estas crónicas ouvindo-o, reconhece as suas palavras e atitudes e muitas vezes os seus gestos, olhando-nos, ou vendo mais longe.
Sempre admirei na sua obra a capacidade de nos entusiasmar com a crueza das suas palavras, que têm para mim a clareza fácil daquela simplicidade muito difícil de conseguir. Os seus escritos não são feitos para nos seduzir ou intimidar, os seus são textos inteiros e que bem alto - tom de voz tão oposto ao da sedução - nos confrontam com o homem e a sua posição no mundo, na capacidade que tem o seu grito em ser a voz que acreditamos pode fazer-se ouvir.
Ana Clara Justino
* Universitária Editora. Lx, 2001.
3 Comments:
Passei por aqui e aqui deixo a marca dessa passagem.
Numa 1ª leitura deixo dito que gostei.
Pela existência da sua fama vi-me 'obrigado' a mudar de nome, era Carlos Carranca e agora sou JotaCê Carranca, assim mesmo por extenso.
Posso convidá-lo a visitar o meu 'sitiozinho' onde deixo palavras soltas que formam frases, parágrafos e textos, sem pretensões mas, penso, rico em emoções?
Abraços
"É que o coração do poeta são os seus olhos para o mundo, é que este autor vê o mundo com um coração limpo e grande. É o coração que fala, porque é o coração que sabe, repito o que já disse uma vez, não se duvida de sentimentos assim expostos."
Será que esta senhora, que até escreveu um bom texto, já descobriu que o Carranca é um "poeta à séria"? Qu é um solitário?
é porque trecho que tiro, é bastante bom, mas é o espelho da mensagem do Unamuno quando diz que o Solitário é o poeta, que não tem medo de pensar alto e dizer que tem o "coração ao pé da boca". Deve saber, creio eu...
Mas, se estivesse no lugar del, tinha apenas resumido que o Carranca não passa de um Poeta, de um Solitário!
(Quero ler o seu livro!)
Beijinho
(Celina Ferraz)
Também quero ler seu novo livro!
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