Emídio Guerreiro na Lousã
Exemplo vivo de dignificação do Homem
No dia 6 de Setembro de 1899 veio ao mundo, na cidade de Guimarães, um dos homens mais fascinantes de que tenho a honra de ser amigo.
Viveu em três séculos e hoje, no alto dos seus cento e cinco anos de idade, continua a ser futuro.
Pelo seu passado político de combatente contra todas as formas de ditadura, pelos valores democráticos de que ainda é arauto e exemplo vivo de dignificação do Homem, merece ser lembrado.
Há cerca de dois anos, numa das deliciosas conversas que mantinha com amigos (e suponho que na Lousa) fiz um comentário a propósito do socialismo democrático a que ele logo acrescentou:
- Sabe, hoje o socialismo serve para distribuir as migalhas que sobram do banquete capitalista!
Foi pela liberdade, sempre, que Emídio Guerreiro combateu. Foi por ela que, às ordens do General Sousa Dias, a 3 de Fevereiro de 1927, no Porto, empunhou uma arma.
Longe da Pátria, exilado em Espanha, ensinando e combatendo, foi adversário de Franco e em França integrou o ma-quis, participando na resistência ao invasor alemão (evadiu--se por duas vezes de campos de concentração).
Foi pela liberdade, na defesa das suas convicções, que se tornou verdadeiro embaixador da resistência portuguesa ao salazarismo em Paris, acolhendo muitos dos nossos exilados. Impulsinou o projecto político do General Humberto Delgado e foi o primeiro a denunciar a sua morte como crime perpetrado pela PIDE.
José Augusto Seabra, um dos seus mais dedicados amigos, enviou uma mensagem a Emídio Guerreiro, no dia do seu centésimo aniversário onde dizia:
"Conheci o prof. Emídio Guerreiro desde os primeiros tempos do meu exílio em França. Impressionou-me logo a sua personalidade irradiante, a sua coragem intelectual e moral, a generosidade com que se entregara à causa da Liberdade e da Democracia, tanto em Portugal como na Europa e no Mundo."
Após quarenta e dois anos de exílio, num dia de Maio de 1974, regressava a Portugal o guerreiro Emídio e vinha para continuar a luta. Sabia que a liberdade é um horizonte móvel e que não podemos deixar de a perseguir e de sonhar por ela.
Adere ao então PPD e, pouco tempo depois, no célebre "Verão quente", é líder do partido.
Rapidamente as bases do partido e alguns barões se aperceberam que aquele homem estava muito para além dos seus interesses e, em breve, Emídio Guerreiro abandona o PPD, mas antes reafirmava as suas convicções, as de toda uma vida, as de homem de esquerda, as de socialista sem dogma.
Por duas vezes Emídio Guerreiro e sua esposa estiveram na Lousa, em minha casa. Por duas vezes, visitaram locais que muito apreciaram. Lembro-me que, entre o muito que viram e usaram, foram os jantares no "Burgo" e no "Gato" que relembram com frequência, assim como a visita à Quinta do Meiral para conhecerem a fábrica do célebre Licor Beirão e do não menos conhecido Carranca Redondo.
E as conversas intermináveis pela noite fora nas quentes noites de Verão?
Conversador inveterado, o professor Emídio Guerreiro, quando minha mulher lembrava o adiantado da hora, não se deixava a abater: "vão as meninas andando para a cama que nós ficamos mais um bocado!" Bocado que se prolongava lá para as três da manhã.
Infelizmente, da Sra. D. Alice já não podemos usufruir a companhia. Mas deixou no pequenino jardim da casa do Prilhão, duas roseiras amarelas que minha mulher e eu olhamos com um carinho muito especial.
Trevim, 23 de Setembro de 2004
Carlos Carranca
Exemplo vivo de dignificação do Homem
No dia 6 de Setembro de 1899 veio ao mundo, na cidade de Guimarães, um dos homens mais fascinantes de que tenho a honra de ser amigo.
Viveu em três séculos e hoje, no alto dos seus cento e cinco anos de idade, continua a ser futuro.
Pelo seu passado político de combatente contra todas as formas de ditadura, pelos valores democráticos de que ainda é arauto e exemplo vivo de dignificação do Homem, merece ser lembrado.
Há cerca de dois anos, numa das deliciosas conversas que mantinha com amigos (e suponho que na Lousa) fiz um comentário a propósito do socialismo democrático a que ele logo acrescentou:
- Sabe, hoje o socialismo serve para distribuir as migalhas que sobram do banquete capitalista!
Foi pela liberdade, sempre, que Emídio Guerreiro combateu. Foi por ela que, às ordens do General Sousa Dias, a 3 de Fevereiro de 1927, no Porto, empunhou uma arma.
Longe da Pátria, exilado em Espanha, ensinando e combatendo, foi adversário de Franco e em França integrou o ma-quis, participando na resistência ao invasor alemão (evadiu--se por duas vezes de campos de concentração).
Foi pela liberdade, na defesa das suas convicções, que se tornou verdadeiro embaixador da resistência portuguesa ao salazarismo em Paris, acolhendo muitos dos nossos exilados. Impulsinou o projecto político do General Humberto Delgado e foi o primeiro a denunciar a sua morte como crime perpetrado pela PIDE.
José Augusto Seabra, um dos seus mais dedicados amigos, enviou uma mensagem a Emídio Guerreiro, no dia do seu centésimo aniversário onde dizia:
"Conheci o prof. Emídio Guerreiro desde os primeiros tempos do meu exílio em França. Impressionou-me logo a sua personalidade irradiante, a sua coragem intelectual e moral, a generosidade com que se entregara à causa da Liberdade e da Democracia, tanto em Portugal como na Europa e no Mundo."
Após quarenta e dois anos de exílio, num dia de Maio de 1974, regressava a Portugal o guerreiro Emídio e vinha para continuar a luta. Sabia que a liberdade é um horizonte móvel e que não podemos deixar de a perseguir e de sonhar por ela.
Adere ao então PPD e, pouco tempo depois, no célebre "Verão quente", é líder do partido.
Rapidamente as bases do partido e alguns barões se aperceberam que aquele homem estava muito para além dos seus interesses e, em breve, Emídio Guerreiro abandona o PPD, mas antes reafirmava as suas convicções, as de toda uma vida, as de homem de esquerda, as de socialista sem dogma.
Por duas vezes Emídio Guerreiro e sua esposa estiveram na Lousa, em minha casa. Por duas vezes, visitaram locais que muito apreciaram. Lembro-me que, entre o muito que viram e usaram, foram os jantares no "Burgo" e no "Gato" que relembram com frequência, assim como a visita à Quinta do Meiral para conhecerem a fábrica do célebre Licor Beirão e do não menos conhecido Carranca Redondo.
E as conversas intermináveis pela noite fora nas quentes noites de Verão?
Conversador inveterado, o professor Emídio Guerreiro, quando minha mulher lembrava o adiantado da hora, não se deixava a abater: "vão as meninas andando para a cama que nós ficamos mais um bocado!" Bocado que se prolongava lá para as três da manhã.
Infelizmente, da Sra. D. Alice já não podemos usufruir a companhia. Mas deixou no pequenino jardim da casa do Prilhão, duas roseiras amarelas que minha mulher e eu olhamos com um carinho muito especial.
Trevim, 23 de Setembro de 2004
Carlos Carranca
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