quinta-feira, março 08, 2007

Para recordar: dois poemas de Luiz Goes



HOMEM SÓ, MEU IRMÃO
1968

Tu, a quem a vida pouco deu
que deste o nada que foi teu
em gestos desmedidos...

Tu, a quem ninguém estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos
homem só, meu irmão!

Tu, que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade
em cada sentimento
inventa, inventa amigo uma canção
que dure para além deste momento,
homem só, meu irmão!

Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste
— dura solidão —
faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
homem só, meu irmão!



SANGUE NOVO
1972


Ao ouvir a voz do povo
é que se aprende a verdade;
quem ama nasce de novo
e vive sem ter idade.
Levar a vida a lembrar
Um triste passado morto,
é como querer navegar
num mar sem água nem porto.


Ao ouvir a voz do povo
é que a verdade aparece;
amor novo é sangue novo,
até na velhice aquece.
Levar a vida a lembrar
um triste e morto passado,
é como querer habitar
um lar sem chão nem telhado.