REGRESSO AO TORGA*
A falta de autenticidade que marca a nossa vida política encontra na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a dimensão lusófona institucional no des-respeito, na irresponsabilidade, na incapacidade de jogar limpo - na tragédia.
Independentemente do desfecho da guerra fratricida na Guiné, há que assumir, como portugueses, a falência da nossa ocupação multisecular em África.
Como admirador e amigo do poeta de «Orfeu Rebelde» sinto cada vez mais viva a afirmação: Ser contra isto para ser por isto.
Em África não respeitamos o Homem que lá encontrámos, impusemos-lhe, violentamente, a nossa cultura e não fomos os bandeirantes dos princípios de humanidade e fraternidade universais, que tão bem soubemos espalhar por outros continentes.
Como é possível unir países em torno de interesses, de valores comuns, países que vivem em guerra civil?
Como é possível não morrer de vergonha, quando falamos em nome da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
Como é possível promover o entendimento entre Pátrias de Língua Oficial Portuguesa, se os líderes não respeitam as constituições democráticas e promovem divisões artificiais no seu país?
Em Junho de 1986, na Guiné-Bissau, fuzilamentos obrigavam Torga a um veemente protesto, num misto de dor e de vergonha, que continua, ainda hoje.(hoje mais do que nunca), a marcar o sentir de toda a comunidade de mulheres e de homens livres:
Fuzilamentos na Guiné-Bissau. Com a notícia a zurzir-me
nos ouvidos, fui fazer um electrocardiograma. Somos uns desgraçados. Em ocasiões assim, de vergonha humana, mandava a decência que, cobertos de luto, esquecêssemos os próprios males, a chorar desesperada e desalentadamente sobre a nossa condição. Nós, os portugueses neste caso particular, ainda mais. Em tantos anos de colonialismo, nem com o exemplo de pioneiros da abolição da pena de morte conseguimos deixar enraizada nas terras de ocupação a árvore da fraternidade tolerante.
Agarrados, apenas, a uma antiga esperança de libertação, a de fazer emergir a sua cultura, de expressar, sem barreiras, os seus sonhos, o guineense, e o africano em geral, vêem hoje os seus sonhos desfeitos; substituídos os velhos colonizadores por seus irmãos de sangue que, movidos pela ganância, os oprimem, encarceram e matam, enquanto o mundo observa o espectáculo, lavando as mãos como Pilatos.
* Jornal de Coimbra, 22 de Julho, 99
A falta de autenticidade que marca a nossa vida política encontra na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a dimensão lusófona institucional no des-respeito, na irresponsabilidade, na incapacidade de jogar limpo - na tragédia.
Independentemente do desfecho da guerra fratricida na Guiné, há que assumir, como portugueses, a falência da nossa ocupação multisecular em África.
Como admirador e amigo do poeta de «Orfeu Rebelde» sinto cada vez mais viva a afirmação: Ser contra isto para ser por isto.
Em África não respeitamos o Homem que lá encontrámos, impusemos-lhe, violentamente, a nossa cultura e não fomos os bandeirantes dos princípios de humanidade e fraternidade universais, que tão bem soubemos espalhar por outros continentes.
Como é possível unir países em torno de interesses, de valores comuns, países que vivem em guerra civil?
Como é possível não morrer de vergonha, quando falamos em nome da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
Como é possível promover o entendimento entre Pátrias de Língua Oficial Portuguesa, se os líderes não respeitam as constituições democráticas e promovem divisões artificiais no seu país?
Em Junho de 1986, na Guiné-Bissau, fuzilamentos obrigavam Torga a um veemente protesto, num misto de dor e de vergonha, que continua, ainda hoje.(hoje mais do que nunca), a marcar o sentir de toda a comunidade de mulheres e de homens livres:
Fuzilamentos na Guiné-Bissau. Com a notícia a zurzir-me
nos ouvidos, fui fazer um electrocardiograma. Somos uns desgraçados. Em ocasiões assim, de vergonha humana, mandava a decência que, cobertos de luto, esquecêssemos os próprios males, a chorar desesperada e desalentadamente sobre a nossa condição. Nós, os portugueses neste caso particular, ainda mais. Em tantos anos de colonialismo, nem com o exemplo de pioneiros da abolição da pena de morte conseguimos deixar enraizada nas terras de ocupação a árvore da fraternidade tolerante.
Agarrados, apenas, a uma antiga esperança de libertação, a de fazer emergir a sua cultura, de expressar, sem barreiras, os seus sonhos, o guineense, e o africano em geral, vêem hoje os seus sonhos desfeitos; substituídos os velhos colonizadores por seus irmãos de sangue que, movidos pela ganância, os oprimem, encarceram e matam, enquanto o mundo observa o espectáculo, lavando as mãos como Pilatos.
* Jornal de Coimbra, 22 de Julho, 99
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