A MAIS HUMANA DAS OBRAS
Á memória de Miguel Torga
Interrogo-me frequentes vezes se não estará a Poesia mais próxima da magia do que da literatura.
Ora, o Poeta é um mágico, não é um literato, porque a sua condição essencial é a da criação poética, sendo na dimensão transfiguradora da realidade que o Poeta se cumpre, e não no acervo de obras consultadas ou na profusão de autores citados.
Não é citando os criadores que o Poeta existe, é existindo que o Poeta é.
Vivemos num tempo em que os discursos soam a oco. Vivemos num tempo de múltipla palavras sem sentido, usadas nos comércios diários dos interesses; palavras que se usam e deitam fora, palavras sem peso específico, sem leveza, em suma, sem valor.
Porque a Poesia passa pelo ritmo encadeado das palavras, e porque ele, o ritmo, assenta na originalidade com que as juntamos ou separamos, é que, ao confrontarmo-nos com a palavra poética, nos reencontramos com a originalidade, com o valor da palavra, a oração do silêncio, da voz de alguém que procura a palavra perdida e o seu lugar no homem – o mundo como adjectivo: asseado, purificado, limpo.
Ao entrarmos na obra poética, penetramos na vida que se afasta da razão sem a dispensar, e se aproxima da pura sensibilidade.
A poesia não brinca com as palavras, refaz sentidos, dá-lhes outra coloração, transforma-as sem as deformar.
Há na Poesia uma primorosa conciliação da disciplina com a liberdade, não mistura poema com ideias, elas estão lá, mas são a Poesia.
Não cede à facilidade, não transige com a rima, dá-se uma entrega contida, lúcida, solidária.
São palavras depuradas pela sua nudez.
São palavras recolhidas em si mesmas.
Há na Poesia uma dimensão espiritual, direi mesmo, religiosa, que entra em nós e se recolhe – é a nossa voz que ressoa e nos acorda na transparência da voz do poeta.
Na ética e na religião, a questão essencial é saber se o homem se redime a si mesmo ou se será redimido por outro; a sua obrigação é quebrar as suas grilhetas ou, agrilhoado, ir quebrar as grilhetas alheias.
A poesia tenta, pela palavra, libertar-nos do ruído que aprisiona e, em função do outro, libertá-lo, religando-o à palavra perdida, no aperfeiçoamento do mundo.
No princípio era o verbo.
Todas as coisas foram feitas pela palavra, a palavra desocultadora do mundo, da vida, da beleza.
Sabemos que a morte é a mentira e a verdade é a vida. Mas também sabemos que a única verdade objectiva é a morte porque a vida é um conjunto de mentiras que nos servem de consolo.
Mas o poeta sabe, também, que a palavra vence a morte e que é a palavra poética a mais humana das obras.
Carlos Carranca
Á memória de Miguel Torga
Interrogo-me frequentes vezes se não estará a Poesia mais próxima da magia do que da literatura.
Ora, o Poeta é um mágico, não é um literato, porque a sua condição essencial é a da criação poética, sendo na dimensão transfiguradora da realidade que o Poeta se cumpre, e não no acervo de obras consultadas ou na profusão de autores citados.
Não é citando os criadores que o Poeta existe, é existindo que o Poeta é.
Vivemos num tempo em que os discursos soam a oco. Vivemos num tempo de múltipla palavras sem sentido, usadas nos comércios diários dos interesses; palavras que se usam e deitam fora, palavras sem peso específico, sem leveza, em suma, sem valor.
Porque a Poesia passa pelo ritmo encadeado das palavras, e porque ele, o ritmo, assenta na originalidade com que as juntamos ou separamos, é que, ao confrontarmo-nos com a palavra poética, nos reencontramos com a originalidade, com o valor da palavra, a oração do silêncio, da voz de alguém que procura a palavra perdida e o seu lugar no homem – o mundo como adjectivo: asseado, purificado, limpo.
Ao entrarmos na obra poética, penetramos na vida que se afasta da razão sem a dispensar, e se aproxima da pura sensibilidade.
A poesia não brinca com as palavras, refaz sentidos, dá-lhes outra coloração, transforma-as sem as deformar.
Há na Poesia uma primorosa conciliação da disciplina com a liberdade, não mistura poema com ideias, elas estão lá, mas são a Poesia.
Não cede à facilidade, não transige com a rima, dá-se uma entrega contida, lúcida, solidária.
São palavras depuradas pela sua nudez.
São palavras recolhidas em si mesmas.
Há na Poesia uma dimensão espiritual, direi mesmo, religiosa, que entra em nós e se recolhe – é a nossa voz que ressoa e nos acorda na transparência da voz do poeta.
Na ética e na religião, a questão essencial é saber se o homem se redime a si mesmo ou se será redimido por outro; a sua obrigação é quebrar as suas grilhetas ou, agrilhoado, ir quebrar as grilhetas alheias.
A poesia tenta, pela palavra, libertar-nos do ruído que aprisiona e, em função do outro, libertá-lo, religando-o à palavra perdida, no aperfeiçoamento do mundo.
No princípio era o verbo.
Todas as coisas foram feitas pela palavra, a palavra desocultadora do mundo, da vida, da beleza.
Sabemos que a morte é a mentira e a verdade é a vida. Mas também sabemos que a única verdade objectiva é a morte porque a vida é um conjunto de mentiras que nos servem de consolo.
Mas o poeta sabe, também, que a palavra vence a morte e que é a palavra poética a mais humana das obras.
Carlos Carranca
3 Comments:
chenlina20160711
jordan 8
juicy couture
air jordans
coach outlet store online clearances
michael kors
louis vuitton
louis vuitton handbags
nfl jerseys wholesale
coach factory outlet
nike trainers uk
louis vuitton outlet
nike sb shoes
nike uk
ralph lauren polo
ray ban sunglasses outlet
nike outlet store
adidas superstar
kate spade handbags
lebron shoes
adidas shoes
louis vuitton outlet
coach outlet
ray ban sunglasses
coach factory outlet
michael kors purses
toms outlet
adidas originals
nike air max
ed hardy clothing
hollister clothing
running shoes
coach outlet
gucci handbags
cheap jordans
ray ban sunglasses
kate spade
true religion outlet
jordan 11 concord
giuseppe zanotti sandals
coach outlet
as
jordan shoes
ugg outlet
oakley sunglasses
rolex replica
ugg outlet
coach outlet
abercrombie and fitch kids
new york knicks
reebok shoes
washington redskins jerseys
20170416
Looking for some inspiration for your next trip? Find great vacation ideas and inspiration from Things to do with your source for the web's best reviews and travel ...
Enviar um comentário
<< Home