sexta-feira, dezembro 08, 2006

MIGUEL DE UNAMUNO

Deu-se à vida o homem que sentia
o tempo, a vontade de crer, a rebeldia.
Amou demais? Gozou? Sofreu? Perdeu o norte?
Existiu diferente e fez da Morte
o gesto heróico que sabia.
Inteiro e desmedido
entregou-se à febre que a Vida lhe pedia.
A Razão gritava-lhe ao ouvido,
mas era a Vida que ele amava e não sabia
doutra voz mais terna, doutro sol mais vivo.
Morto, agora - que a Razão não perdoa
à Fé os milagres que oferece -
ao colo da mulher ele arrefece
na paz materna. Voz que entoa
cânticos de luz a um deus eterno que apetece.

Carlos Carranca