quinta-feira, fevereiro 08, 2007

UMA QUESTÃO DE PRINCÍPIOS

Uma aula da Escola Profissional de Teatro de Cascais


Numa aula, os meus alunos da Escola de Teatro reflectiam em conjunto sobre a Construção da Democracia e, muito a propósito, as polémicas alegadas afirmações de Sousa Franco proferidas em privado, à mesa de um restaurante e estampadas na primeira página de O Independente, preencheram todo o tempo reservado ao tema inicial.
Os alunos discutiam a legitimidade ou ilegitimidade da notícia, o modelo de jornalismo praticado, e todos foram unânimes em condenar o uso e abuso do poder da imprensa, manifestando-se indignados pela divulgação de uma conversa privada, concluindo terem sido violadas as regras mais elementares da deontologia.
Mas, no meio desta natural unanimidade, alguém, invertendo o sentido geral das opiniões, afirmou desconfiar das razões que levaram Sousa Franco àquele restaurante, da sua inocência, e que ele (Sousa Franco) o tinha feito para provocar o escândalo previsível num país de bisbilhoteiros.
O leitor imaginará a confusão que se gerou a partir deste comentário?
Por mais que tentasse moderar o debate, a confusão ia aumentando, enquanto o tal aluno repetia sem cessar o argumento do local escolhido pelo ex-ministro, e as afirmações proferidas à mesa do tal restaurante.
Não houve ninguém capaz de o convencer que, por mais irreflectida que tenha sido a decisão de Sousa Franco ao aceitar o convite de almoçar no tal restaurante, a atitude de O Independente é ética e deontologicamente reprovável e que é inaceitável, nestas questões, separar o método dos seus resultados. Que no plano dos valores não é relevante se Sousa Franco mentiu ou não, mas que a divulgação das frases por si alegadamente proferidas é ilegítima por se tratar de uma conversa privada.
Para todos os que acreditam no aperfeiçoamento da Democracia e no jornalismo de valores e com valores, essa conversa nunca existiu.


Jornal de Coimbra, 15 de Dezembro, 99