quinta-feira, abril 16, 2009

O Ensino de Fábrica contraria a Natureza Humana e Atrofia a Imaginação e a Criatividade, Enclausurando-as em Caixas e Tornando-as Inacessíveis

A escola de hoje é um modelo que se equilibra por um lado no modelo fábrica e por outro na lógica behavorista pavloviana. Ambos são originários do final do século XIX e impuseram, ao lado da economia de mercado emergente, um modelo de educação que se baseia na massificação do ensino e que pensa as crianças como tabulas rasas. Partindo destes princípios, temos uma educação que admite a massificação das estruturas de ensino e que olha para os gastos do Estado como factor que se deve sobrepôr ao interesse da criança como ser excepcional. A escola surge assim, como embrião da empresa e da nova economia, pensada para nos tornar soldados ao serviço de uma ditadura de mercado ou de um ideal político que se pensa único. Temos sim de impôr uma escola que cultive o amor abstracto pela aprendizagem, que forneça material e guidance para que a criança possa partir para o mundo, na plenitude da sua natureza.


Outra questão que se nos coloca é a da avaliação segundo os gráficos da OCDE ou da burocracia castrante dos ministérios e dos institutos cheios dos tais boys contratados pela máquina partidária e não ao serviço da procura da melhor pólis. Assim, surge a educação based on grades, que divide para reinar e onde se fornece uma leitura errada da educação, com a criança levada a castigar-se a ela própria para estudar num dado período e depois tudo esquecer. E pergunto: onde está o prazer para ir à escola? Para apenas formalmente cumprir um dever que nos possa trazer mais tarde um curso qualquer? Para que nos distanciemos de nós próprios?


A democratização do acesso foi apenas ditado pela economia de mercado e pela lógica taylorista, não para preservar e ajudar a encontrar a natureza de cada um de nós, mas para nos preparar para sermos agentes da indústria de massas, até chegarmos à reforma onde passamos candidamente sem sabermos quem somos, perdidos por sermos soldados sem arma e sem guerra; para sermos eficientes num sistema que procura o lucro, esquecendo-se do Homem, levando à sebentarização das matérias, à simplificação dos temas, à confusão entre currículos, entre o modelo capitalista e o modelo burocrático-soviético, que desumaniza o professor e estabelece fenómenos burocrático-administrativos na escola que impedem a procura da psicologia de cada criança.


Temos de contrariar Thorndike em The Teacher's Word Book, onde este diz que deviamos moldar a criança, passando a estimular a natureza de cada ser humano; mas não o fazem porque perdem tempo discutindo o sexo dos anjos entre mudanças de horários, aulas de substituição, burocratização do ensino, organização administrativa e avaliação; continuamos perdidos nas lutas PRECianas entre revolucionários e pós-revolucionários, entre os que se converteram, os que estão por converter e os que nunca se converterão; entre uma ministra ex-anarco-sindicalista que não perdeu os tiques estalinistas e os sindicatos que não abrem o debate para uma profunda e densa reforma.

Acabemos com o ensino retirado do contexto, onde falta a poesia da vida vivida.

P.S. em homenagem ao Carlos Carranca.
BRUNO GONÇALVES BERNARDES.