sexta-feira, janeiro 07, 2011

POEMA DE UM AMIGO


na foto António Salvado


ESPERANÇA

Tu és de sempre como o tempo,
tu és de longe como o espaço!
Súplica de cada momento,
falas – se o ânimo quebrado
nos enregela o pensamento.

Reapareces na tristeza
de uns olhos baços perseguidos
e és bem mais alta que a beleza!
Âncora, os teus ganchos são vivos
gumes de sol e de certeza!

Deixa-me, ó luz, acreditar
que um dia não serás precisa:
que foste apenas a passagem
para a real e definida
forma de que és agora imagem!

ANTÓNIO SALVADO

Nota – António Salvado (professor, poeta, prosador e tradutor) nasceu em Castelo Branco, a 20 de Fevereiro de 1936. Poeta que tem cantado, como raros o têm feito, a axial região da Beira-Baixa. Não obstante este «espírito de lugar», sempre revelou pendor universal, atestado nas dezenas de obras, quer originais quer de tradução, labor que o poeta costuma designar por verter. Poesia fecunda – a sua marca singular - que adivinha todas as redenções pelo amanhã da humanidade. Mas também uma voz que não esquece e sabe recuperar os perenes ecos antigos, plasmada em linguagem que muito tem enriquecido a Língua Portuguesa de palavras e expressões a que já nos desabituaram os que escrevem, na actualidade. Lírica de uma intensidade que não renega o tempo, mas que dele se quer livre, ou seja, na exaltação e também na sublimação dos sentidos.
Desde que começou a publicar, em 1955, assim tem sido o percurso de António Salvado, ao longo de cinquenta anos de vida literária. Muitas são as figuras que se têm referido à sua obra, desde Teixeira de Pascoaes e J. Gaspar Simões a Natália Correia e Pinharanda Gomes, entre muitos outros de várias sensibilidades e quadrantes do pensamento. De uma carta do poeta de Amarante, dirigida ao então ainda jovem poeta de Castelo Branco, podemos ler: «Meu querido amigo: Trato-o assim, pois considero da minha família todas as pessoas que amam a minha obra. Assim ela mereça esses amores! Trabalhe! E que a Musa de Orfeu o não abandone, é o que mais desejo!» (Teixeira de Pascoaes, 1951).

Festa dos Reis Magos, 2011
Eduardo Aroso