terça-feira, outubro 09, 2007

JOSÉ BELO NA HORA DA ACADÉMICA

Por Carlos Carranca


Ando há alguns anos a discutir com amigos aquilo a que chamam hoje Académica. Farto de reflectir sobre o pesadelo de uma causa cada vez mais coisa, que se tem vindo a afastar tragicamente dos seus princípios e valores, mas sem nunca ter perdido a esperança de um dia ver ou ouvir alguém que mereça o nosso respeito e a nossa admiração, a assumir aquilo que, todos sabemos, mal, e que se resume ao seguinte: a Académica é hoje um clube como outro qualquer, sem estudantes, sem ideias, nem ética capaz de impor a diferença no reino do vale-tudo que é o nosso futebol. Por outras palavras, o José Belo, glória da Académica e meu querido amigo, afirmou ao Record de 7 de Outubro que “É na conquista dos valores e princípios que fizeram desta (a Académica) uma instituição de referência que devem centrar-se as nossas energias”. E continua, afirmando, sem deixar qualquer espécie de dúvidas aos leitores, que o futebol de hoje “pulsa ao ritmo de um mercantilismo puro e duro”, sublinhando que “o futuro pode e deve passar por nós, por um modelo onde o Homem também se cumpra na sua integralidade”.

Há já alguns anos escrevi que “Nós somos desse tempo de ansiar/o lugar onde nasce a poesia”. Nós que aprendemos com a Académica a ser do futuro, a jogar à bola contra os interesses instalados; nós que fomos modernos e clássicos ao mesmo tempo, que deixámos pegadas humanizadoras no futebol de então; nós que soubemos assumir as nossas responsabilidades em tempo próprio, é altura de, mais uma vez, estarmos com o futebol-festa da vida contra o futebol-espectáculo alienador das massas.

Ser da Académica é não pactuar com a negociata que faz do OAF placa giratória para profissionais do futebol e seus empresários.

Nós acreditamos numa Académica de cidadãos, e não de mercadorias transaccionáveis.

O futuro da Briosa deve passar pelo reforço da identidade como mais-valia de um futebol de cidadãos.

Os interesses políticos e o vírus do negócio arrastaram a Académica para um futebol de gosto duvidoso, sem ideias, sem substância, sem coesão. Deixou-se prostituir pela mercantilização e cedeu ao vírus negocista que se apoderou de todos os sectores da vida nacional, levando João Palma-Ferreira a afirmar, poucos dias antes de morrer, ter a tecnocracia organizado cientificamente a estupidez.

Reconhecendo que a Académica já não é a nossa e serve mal o futebol que há, está na hora de alguém assumir patrioticamente a responsabilidade pelo futuro – o outro património da eterna Académica, congregando todos quantos ainda acreditam no futebol dos princípios desportivos e, como muito bem afirmou o José Belo “onde o Homem se cumpra na sua integralidade”.

Essa personalidade já foi encontrada. Chama-se José Belo, herói da Taça de 69, presidente do Núcleo dos Veteranos, símbolo da Académica de sempre e que, em boa hora, disse o que todos estamos fartos de saber.