domingo, julho 05, 2009

As Jornadas Pastorais do nosso Episcopado acabam de desenhar,para os católicos portugueses, uma nova pedagogia social,comprendendo que são os pobres o verdadeiro "altar" de Deus.
(...) Está anunciada, para Novembro, a "Carta da Compaixão", preparada desde 2008. Destina-se a congregar todos aqueles,religiosos ou não, que não suportam a situação actual do mundo da exclusão,atentos à antiga "regra de ouro"na sua formulação negativa e positiva: não fazer aos outros o que não desejamos que nos façam a nós e fazer-lhes aquilo que gostariamos que nos fizessem.(...)Como lembra o filósofo A. Comte-Sponville, o capitalismo não funciona pela virtude, pela generosidade pelo desinteresse, mas no interesse pessoal ou familiar: funciona por egoismo. O mercado é incapaz de se auto-regular de modo socialmente aceitável e a moral não basta. Entre o poder cego da economia e a fraqueza da moral, só restam a política e o direito para fixar os limites do que não é negociável, para que os valores morais dos indivíduos controlem , em parte, a realidade amoral da economía.
Jaques Attali nota que o crescimento da economia criminosa pode vir a dominar a economia real. A Somália é, hoje, uma economia de mercado sem Estado, a economia das máfias e da traficância. Tendo isto em conta, as crises até podem ser proveitosas, se provocarem a tomada de consciência dos perigos que nos espreitam em relação às gerações futuras das quais só nós podemos ser a voz.Se não actuarmos depressa, a selvajaria absoluta arrebentará com tudo; mas tudo pode ser salvo se houver consciência da importância de um Estado de direito global que actue no interesse de todos.
Há quem diga que, por razões económicas (o crescimento) e por razões morais (o desnvolvimento), caminhamos para uma catástrofe ecológica. Se, porém, acolhermos o alarme desta crise, poderemos converter os nossos estilos de vida e dar bons sinais de que juntos podemos enfrentar o futuro que exige uma política global.

Frei Bento Domingues,Público,5 de julho de 2009